Em encontro da Executiva Nacional do partido, Lula e petistas estimularam desrespeito à determinação do tribunal federal e enfrentamento
Vera Rosa / O Estado de S. Paulo.
Um dia após ser condenado a 12 anos de prisão, o ex-presidente Lula disse que não respeitará a decisão do TRF-4. Em ato que aprovou sua pré-candidatura ao Planalto, Lula conclamou militantes a uma ofensiva e pregou enfrentamento.
Um dia depois de ser condenado pelo Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4) a 12 anos e um mês de prisão, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que não respeitará a decisão da Justiça. Em ato político que aprovou sua pré-candidatura ao Palácio do Planalto, ontem, o expresidente conclamou os militantes a uma ofensiva nas ruas para seguir com a campanha, “mesmo se acontecer alguma coisa indesejável”, e pregou o enfrentamento.
“Esse ser humano simpático que está falando com vocês não tem nenhuma razão para respeitar a decisão de ontem (anteontem)”, afirmou o ex-presidente, na sede da Central Única dos Trabalhadores (CUT), onde ocorreu a reunião da Executiva Nacional do PT. “Quando as pessoas se comportam como juízes, sempre respeitei, mas, quando se comportam como dirigentes de partido político, contando inverdades, realmente não posso respeitar.”
As afirmações de Lula foram feitas antes da decisão da Justiça Federal do Distrito Federal, acatada por ele, de apreender seu passaporte. Com a voz que ficou embargada algumas vezes, o ex-presidente fez questão de destacar que retomará as caravanas pelo Brasil, mas apelou ao PT e aos movimentos sociais para que o ajudem no embate nas ruas. “Espero que a candidatura não dependa do Lula. Que vocês sejam capazes de fazê-la, mesmo se acontecer alguma coisa indesejável, e colocar o povo brasileiro em movimento.”
O PT promoveu um ato para lançar Lula à Presidência com o objetivo de mostrar que não aceitará o que classifica como “julgamento político”. Participaram do encontro governadores, parlamentares, integrantes de movimentos sociais e a presidente cassada Dilma Rousseff. O maior temor do partido, agora, é de que Lula seja preso antes do registro da candidatura, previsto para 15 de agosto, último dia do prazo estabelecido pela Lei Eleitoral.
‘Cartel’. Em um discurso inflamado, o ex-presidente disse que o Poder Judiciário, a imprensa e a elite formaram um “cartel” para destruir o PT e tirá-lo do jogo eleitoral. “Somente ontem (anteontem) eu compreendi o que é um cartel. Precisava até mandar para o Cade”, ironizou ele, em uma referência ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica.
Ao lembrar que enfrenta outros processos, Lula insistiu na necessidade de reação dos militantes. “Ou vocês percebem que o que está sendo julgado é a forma que governamos o País e se organizam, ou o próximo passo será a tentativa de criminalizarem o PT, porque estão tentando dizer que o PT é uma organização criminosa”, afirmou.
‘Desobediência’. A estratégia do partido é a de incentivar protestos contra a decisão do TRF4, sob o argumento de que Lula foi condenado sem provas por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, acusado de receber da OAS um triplex no Guarujá (SP), em troca de favorecimento à empreiteira por meio de contratos da Petrobrás.
O líder do PT no Senado, Lindbergh Farias (PT-RJ), defendeu a ocupação das ruas para proteger o ex-presidente. “Não nos peçam passividade nesse momento. Há uma ditadura de toga nesse país. Não podemos mais dizer que vivemos numa democracia e agora só temos um caminho: a rebelião cidadã e a desobediência civil”, disse ele. “Vão fazer o quê? Prender o Lula? Vão ter de prender milhões de brasileiros antes.”
O mesmo tom foi usado por Humberto Costa (CE), líder da oposição no Senado. “A única maneira de barrarmos o golpe e garantir a candidatura de Lula é ir às ruas e partir para a desobediência civil”, disse.
O presidente do PT paulista, Luiz Marinho, chegou a afirmar que Lula não será preso sob nenhuma hipótese. “A prisão pode ser o desejo de muita gente, mas não vão assistir a isso”, disse o petista, que é pré-candidato do PT ao governo de São Paulo. “Se o Judiciário tirou as coisas dos eixos, o que vamos fazer? Ficar de braços cruzados? Estão querendo botar fogo no País. Depois não venham dizer que somos culpados.”
Diante de uma plateia que gritava “Brasil/Urgente/Lula presidente”, o deputado e advogado Wadih Damous (PT-RJ) comparou a decisão do TRF-4 ao fascismo. “Aquele julgamento foi absolutamente coerente com o que acontece hoje no Brasil em que o sistema jurídico é o pilar do fascismo.”
Greves. Ao participar do desagravo a Lula, o líder do Movimento dos Sem Terra (MST), João Pedro Stédile, disse que a condenação de Lula não será aceita “de maneira nenhuma”. “Aqui vai um recado para a dona Polícia Federal e para o ‘seu’ Poder Judiciário: não pensem que vocês mandam no País. Nós impediremos que Lula seja preso. Esse é o nosso compromisso”, provocou Stédile.
O presidente da CUT, Vagner Freitas, também foi na mesma linha e prometeu até organizar uma greve geral no País. “Nós vamos enfrentar nas ruas e desobedecer à decisão do TRF-4”, anunciou. Freitas disse que a CUT promoverá brevemente paralisações em bancos. Afirmou, ainda, que se a reforma da Previdência for votada no próximo dia 19, a entidade fará a “maior greve da sua história”. / Colaboraram André Ítalo Rocha e Thaís Barcellos
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