sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Lula prega desobediência de decisão judicial

Ex-presidente ataca desembargadores e lança candidatura, embora o PT já pense na troca. Ontem, a Justiça o proibiu de sair do país.

Lula diz não ‘ter razão para respeitar’ decisão do TRF-4

Outros petistas também pregaram ‘desobediência’ à Justiça

Sérgio Roxo e Gustavo Schmitt / O Globo

-SÃO PAULO- O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva adotou um discurso agressivo ontem e disse que não vai respeitar a decisão dos desembargadores do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), que o condenaram a 12 anos e um mês de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro. Em encontro que se estendeu por todo dia em São Paulo, a executiva do PT reafirmou a candidatura de Lula ao Planalto, embora reservadamente uma alternativa comece a ser debatida. Na reunião, petistas e representantes de movimentos sociais aliados ao partido pregaram “desobediência” a decisões judiciais como um caminho a ser seguido a partir de agora, diante da decisão da Corte gaúcha.

— Este cidadão simpático que está falando para vocês não tem nenhuma razão para respeitar a decisão de ontem — discursou Lula.

O petista centrou fogo nos desembargadores do TRF-4:

— Quando as pessoas se comportam como juízes, eu sempre respeitei. Mas quando as pessoas se comportam como se fossem dirigentes de partidos políticos, contando inverdades sobre as pessoas, eu não posso respeitar.

Lula disse que se respeitasse a sentença estaria concordando com as acusações feitas contra ele:

— Se eu respeitar, eu perderei o respeito da minha neta de seis meses, da minha filha, do meu filho e perderei o respeito de vocês.

Em uma tentativa de animar os seguidores, ele disse não ter ficado surpreso com a condenação por 3 a 0. O ex-presidente contou que dormiu “tranquilamente”:

— Desde o começo, acreditava que seria 3 a 0. Por isso, não sofri tanto como alguns companheiros.

Num tom combativo semelhante ao adotado por Lula, petistas e representantes de movimentos sociais reagiram com indignação ao tratarem sobre a possibilidade da decretação de prisão do ex-presidente.

Um dos mais enfáticos foi João Pedro Stédile, da coordenação do Movimentos dos Trabalhadores Sem Terra (MST), que prometeu desrespeitar uma eventual ordem de prisão e desafiou as autoridades:

— Aqui vai um recado para dona Polícia Federal e para o Poder Judiciário: não pensem que vocês mandam no país. Nós, os movimentos populares, não aceitaremos de forma alguma e, impediremos com tudo que for possível, que o companheiro Lula seja preso.

O senador Humberto Costa afirmou que “não pagaria para ver” as consequências de uma eventual prisão de Lula:

— Hoje predomina na sociedade brasileira um entendimento de que esse processo é político e busca evitar que Lula seja candidato. Uma parte significativa da população deposita suas esperanças no retorno de Lula para uma vida melhor. A repercussão social disso pode ser muito forte. São imprevisíveis as consequências.

O presidente do PT do Rio, Washington Quaquá, afirmou que se Lula for preso a população reagirá com revolta:

— Não quero revolução. Quero um entendimento nacional. Mas se o Lula for preso, para nós a democracia no Brasil terá acabado.

Líder do partido no Senado, Lindbergh Farias (RJ), disse que antes de prender Lula terão que “prender milhões de pessoas”.

— Não tenho ilusão de que vamos achar saídas por dentro das instituições. Vamos derrotar esse golpe com uma liminar judicial? Não. Só temos uma caminho, que são as ruas, as mobilizações, rebelião cidadã e desobediência civil — afirmou.

O deputado federal Wadih Damous (RJ) também defendeu a desobediência e disse que o partido não deve agir com a “ilusão de institucionalidade”:

— Não cabe a nós ficar de braços cruzados respeitando decisões que são inconstitucionais. Eles jogaram fogo no país, não cabe a nós o comportamento de bombeiros.

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