Temer anuncia crédito do BNDES contra a violência e se alinha a discurso de presidenciáveis
André de Souza, Karla Gamba, Maria Lima e Sérgio Roxo | O Globo
BRASÍLIA E SÃO PAULO - Duas semanas depois de decretar a intervenção na segurança pública do Rio, o presidente Michel Temer (PMDB) deu ontem mais um passo para produzir um discurso nacional que o ponha em linha com o principal assunto da eleição deste ano: o combate à criminalidade. O peemedebista anunciou ontem, ao lado de governadores e representantes de 26 estados, um empréstimo de R$ 42 bilhões, com recursos do BNDES, para reequipar as polícias. A sete meses das eleições, no entanto, as medidas frustraram os chefes de executivos, pois as verbas não serão liberadas imediatamente, mas ao longo de cinco anos. Com isso, a maior parte delas só poderá ser acessada após o fim do mandato dos políticos ali presentes.
No plano, a previsão é de que sejam liberados R$ 5 bilhões em 2018, dos quais R$ 4 bilhões serão por meio de financiamentos do BNDES. A maior parte dos R$ 42 bilhões anunciados na reunião — R$ 33,6 bilhões — virá desta modalidade de financiamento. Mas a liberação ainda não está garantida, uma vez que a diretoria do banco precisa aprovar “prazos, valores e condições”. A reação dos governadores foi de ceticismo: há muitas dúvidas sobre a burocracia para obter o dinheiro, e há outras despesas que não podem ser financiadas pelo BNDES, como custeio de presídios.
Alguns dos presentes temem ter sido “usados” pelo Palácio do Planalto, que quer mostrar resultados na área. A avaliação é que a proposta foi uma maneira de conter a pressão de governadores e senadores por um tratamento igual ao dado ao Rio.
Na reunião, a maior cobrança foi pela criação de um sistema unificado de segurança, para que União, estados e municípios dividam as responsabilidades e recursos para estancar a crise na segurança. Três governadores cobraram isonomia com o Rio e pediram algum tipo de ação, como envio de tropas federais ou militares: Wellington Dias (PT), do Piauí, Robinson Faria (PSD), do Rio Grande do Norte, e Suely Campos (PP), de Roraima. Mas Temer negou qualquer outra intervenção e disse que nesses estados haveria ações pontuais.
— O grande desafio é o custeio de programas, de pagamento de policiais e manutenção de presídios. Não digo que esse impedimento do BNDES seja um nó, mas é preciso despertar para essa regra — disse o governador do Pará, Simão Jatene (PSDB), em entrevista após a reunião.
Quem aderiu ao plano de recuperação fiscal do governo federal, caso do Rio, está proibido de receber os recursos. O próprio presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro, admitiu que será necessário recorrer à “criatividade” para contornar essa limitação.
— Tendo em vista que esse programa foi delineado com a urgência que a segurança requer nacionalmente, nós temos a primeira abordagem, que ainda vai requerer a aprovação da diretoria do BNDES naturalmente — completou o presidente do BNDES.
DISPUTA DO DISCURSO COM PRÉ-CANDIDATOS
Com a cerimônia de ontem, Temer tenta evitar que os principais pré-candidatos à Presidência assumam o protagonismo do discurso da segurança pública fora do Rio. Há dois dias, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), promoveu, por exemplo, o lançamento de uma ação para fortalecer o policiamento ostensivo na divisa com o estado alvo da intervenção. O tucano também tem ressaltado a queda dos índices de homicídios para se apresentar em outras regiões como o nome com as melhores soluções para a área.
Ciro Gomes (PDT) acusou o governo de São Paulo de “fraudar os índices” de criminalidade no estado para forjar uma redução drástica da violência. De quebra, ainda classificou a intervenção no Rio de “medida politiqueira”.
Em outra frente, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC), líder nas pesquisas em caso de ausência do ex-presidente Lula (PT), tem a segurança como bandeira eleitoral. E se incomodou com a investida de Temer. Ao comentar a estratégia do Planalto após a intervenção, disse que o presidente já “roubou muita coisa aqui, mas o meu discurso ele não vai roubar, não”.
O debate sobre a segurança conseguiu o inusitado: uniu Bolsonaro e Lula. O petista disse que a frase do capitão da reserva do Exército sobre a estratégia de Temer é “histórica”. O petista acusa o presidente de se valer do tema para tentar viabilizar a sua candidatura à reeleição.
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