Investimento cai 1,8% e atinge a menor proporção desde 1996
Resultado, puxado pelo desempenho da agropecuária, marca o fim da recessão
Após dois anos de queda, a economia brasileira cresceu 1% em 2017, puxada pelo desempenho da agropecuária. O consumo das famílias avançou 1%. Já o volume de investimento recuou 1,8%. A taxa de investimento em proporção ao PIB é a menor desde 1996. O resultado marca o fim da recessão, após os tombos de 2016 (-3,5%) e 2015 (-3,5%). As previsões apontam para crescimento mais forte a partir de 2019, mas o país já contabiliza seis anos de estagnação: o patamar anterior à crise de 2014 só será atingido em 2020. O Brasil ficou em penúltimo lugar em um ranking de crescimento que inclui 33 países.
Desafios da retomada
PIB avança 1% em 2017, mas país levará três anos para retornar ao nível pré-crise
Daiane Costa e Marcello Corrêa | O Globo
Ao crescer 1% em 2017, a economia brasileira decretou o fim da recessão, e as projeções apontam para uma expansão mais forte a partir deste ano. Mas o estrago feito pelos dois anos seguidos de recuo do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro farão com que todo o crescimento registrado até 2020 só sirva para recuperar as perdas deste período. Isso significa que o país só voltará a crescer efetivamente a partir de 2021, tendo perdido seis anos.
— Só voltaremos ao nível de produção pré-crise, de 2014, no ano de 2020 — explica Alessandra Ribeiro, economista da Consultoria Tendências.
Na prática, o país levará mais três anos recuperando sua atividade.
A boa notícia é que, ao contrário de 2017, quando 70% da alta do PIB foram puxados pela expansão recorde da agropecuária devido à supersafra, este ano o crescimento da atividade vai refletir uma melhora mais efetiva do bem-estar das famílias e do setor produtivo, porque haverá aumento do consumo e dos investimentos, segundo analistas.
A liberação do saque das contas inativas do FGTS foi fundamental para o consumo das famílias voltar a crescer, 1%, em 2017, e criou um colchão que ajudará a demanda interna a expandir ainda mais este ano.
— O brasileiro também usou esse dinheiro para pagar dívidas e fazer poupança. Com a previsão de juros e inflação comportados este ano e desemprego caindo com geração de vagas formais, que têm melhores salários, o consumo das famílias ganhará mais força em 2018, e ajudará, ainda, a indústria e a construção civil — analisa Alessandra.
Francisco Pessoa, economista da LCA Consultores, também destaca que a economia vai demorar a alcançar o patamar pré-crise. Nas contas dele, a alta acumulada entre 2017 e 2019 ficará em 7%, insuficiente para recuperar as perdas dos anos de recessão. Mas o analista também vê sinais de mais fôlego na economia, inclusive indiretamente ligados ao ano excepcional da agropecuária no país.
— O bom resultado da agropecuária ajudou muito o combate à inflação, que proporcionou que as pessoas tivessem mais renda para gastar com outras coisas e pressionou a queda mais forte da taxa de juros. Ajudou a economia a entrar em um ciclo ascendente — afirma Pessoa.
DISSEMINAÇÃO MOSTRA RETOMADA CONSISTENTE
A expectativa é que os dados dos próximos trimestres mostrem mais fôlego que os do ano passado, principalmente porque 2017 encerrou com disseminação de taxas positivas. No último trimestre de 2017, o PIB cresceu 2,1% em relação ao mesmo período do ano anterior, e todos os dez componentes da atividade analisados pelo IBGE tiveram crescimento. Na visão do economista do Itau Artur Passos, essa propagação mostra que a recuperação da atividade está ganhando consistência.
Os dados foram comemorados pelo governo. O presidente Michel Temer disse que, se o PIB crescer 3% ou mais este ano, serão criados três milhões empregos. Já o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, destacou o crescimento “forte e sólido”:
— O investimento está crescendo, o que significa que as empresas estão com dados sólidos e apostando que o Brasil vai crescer fortemente em 2018, porque já estão investindo exatamente visando a atender a esse crescimento.
Em 2017, a indústria ficou estagnada em relação ao ano anterior, enquanto a construção civil registrou tombo de 5%, fechando no vermelho pelo quarto ano seguido. Pelo lado do consumo, os gastos das famílias voltaram a crescer após dois anos, com avanço de 1%, mas os investimentos ainda fecharam no negativo, embora a queda de 1,8% tenha sido menos intensa que as registradas nos dois anos de recessão.
OUTROS MOTORES EM CENA
Alessandra, da Tendências, observa que 2018 será o ano em que esses outros elementos que tiveram desempenho moderado deverão se destacar para sustentar o ritmo do PIB.
— Outros motores vão entrar em cena. Serviços, do lado da oferta, e consumo das famílias e investimentos, do lado da demanda. O consumo das famílias vai crescer mais porque temos fundamentos para isso. Temos boa dinâmica do mercado de trabalho em curso e teremos crescimento mais expressivo da massa de renda. Outra variável importante para o consumo é a concessão de crédito, que deve continuar subindo — avalia a economista.
A perspectiva de que a economia continuará a avançar em 2018 é mantida mesmo com a desaceleração observada nos últimos trimestres do ano. De janeiro a março, o avanço havia sido de 1,3% em relação ao trimestre anterior, puxado pelo desempenho da agropecuária, que teve os melhores resultados concentrados naquele período. No quarto trimestre, a expansão foi de apenas 0,1%.
— Esse número, embora seja um número relativamente pequeno, vem depois de altas muito fortes ao longo do ano — destaca José Ronaldo de Souza Jr., diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Ipea.
Para Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos, o resultado mostra que há uma tendência positiva na economia:
— O resultado é tímido comparado à nossa ansiedade para ver o país de novo de pé. Mas é uma confirmação de que estamos no caminho certo.
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