O Produto Interno Bruto avançou 1% no ano passado, mas o ritmo de recuperação desacelerou ao longo do ano, na comparação trimestre a trimestre dessazonalizada. O consumo das famílias foi decepcionante no último trimestre, com aumento de 0,1%, a mesma taxa de crescimento da economia no período. Os investimentos reagiram mais rapidamente do que o previsto e cresceram 2% na mesma comparação. Esse desempenho modesto reflete as fragilidades da retomada da economia que, porém, em outras comparações, indicam um ganho de velocidade expressiva. O ano terminou com o PIB 2,1% maior do que no últimos três meses de 2016.
Há bons motivos para se acreditar, porém, que o consumo das famílias, que representa 63,4% do PIB pelo lado da demanda, não deve repetir o comportamento anêmico do último trimestre de 2017. A expansão do crédito, a redução do endividamento e o aumento do emprego, que o impulsionaram ao longo do ano passado - ao lado da injeção nada desprezível de recursos com os saques do FGTS - ainda permanecerão no horizonte nos próximos trimestres. A inflação continua surpreendendo para baixo e movendo o poder de compra dos salários um pouco para cima.
Pelo lado dos investimentos, há uma expansão evidente, embora a taxa de encerramento do ano tenha sido negativa (-1,8%). Mas na comparação de trimestre contra trimestre do ano anterior, a força do avanço é inequívoca, de -3,7% nos primeiros três meses do ano para 3,8% positivos nos três finais. A recomposição dos investimentos, que têm peso de 15,5% no PIB, tem limites óbvios e está sendo feita mais pela renovação de maquinário do que por novas plantas, o que é natural diante da grande capacidade ociosa do parque industrial brasileiro. Componente de peso na formação bruta de capital fixo, a construção encerrou o ano com uma queda forte de 5%. A construção já começou a reagir e tem uma melhor perspectiva este ano. No último trimestre de 2017 havia zerado a queda.
Um passo mais rápido dos investimentos não deverá ocorrer até que se conheça o vencedor da eleição presidencial, dado determinante para o desengavetamento (ou não) de novos projetos de ampliação da capacidade produtiva. Anos eleitorais costumam trazer também mais gastos públicos nas três esferas de governo e os investimentos públicos não deverão ser tão contidos quanto foram nos últimos dois anos, pelo menos na esfera federal.
Há mais fatores concorrendo para uma aceleração do crescimento, para além dos 2,1% do último trimestre, do que para um arrefecimento de seu ímpeto. O crescimento de 2018 poderá ser apenas pontual, porque diante dele há a incógnita das eleições e de uma deterioração fiscal de grande magnitude, que pode se tornar explosivo se o teto de gastos ruir. Neste campo, porém, a retomada dá algum motivo de esperança. Com a significativa queda dos juros e o mergulho da inflação, as taxas de juros reais podem se situar abaixo da expansão do PIB, como observou José Carlos Carvalho (Valor, 9 de novembro), algo raro nas últimas décadas. Isto está mais perto de ocorrer, pois na ponta o PIB avançou 2,1% e o juro real, 2,5% e as chances de um novo corte da taxa Selic cresceram com o IPCA ainda abaixo das expectativas no início do ano.
Pelo lado da produção, há mais fatores positivos. A indústria de transformação encerrou o ano com avanço de 1,7%, mas no último trimestre estava evoluindo a um ritmo de 6% sobre o mesmo período de 2016. O fiel do desempenho está do lado do setor de serviços, que compõem 73,2% do PIB pela ótica da produção. Subsetores que dependem dos salários seguem de perto os passos do consumo das famílias. Mas a reação da indústria está puxando para cima outros serviços. No ano fechado, boa parte deles crescia abaixo da média do PIB e agora, na ponta, estão acima, como o de transporte e armazenagem. As atividades financeiras e de seguros passou a ter taxa de evolução modestamente positiva e vai crescer mais à medida que o crédito se normalizar.
Entre os fatores relevantes de contenção de um crescimento maior estão os juros bancários. Sua elevação em janeiro, quando a taxa média do crédito livre subiu de 40,3% para 41,1% e com Selic em queda- foi um mau sinal.
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