O Brasil tem hoje uma economia bem mais vigorosa que há um ano, mas isso é pouco visível quando se examina só o balanço geral de 2017. Para bem avaliar a retomada, depois de dois anos de recessão, é preciso rever o desempenho em diferentes momentos. Nos três meses finais do ano passado o Produto Interno Bruto (PIB) foi 2,1% maior que no quarto trimestre de 2016. Esse número é pouco mais que o dobro da expansão – 1% – do PIB ao longo de 12 meses. É preciso levar em conta a aceleração dos negócios, assim como a difusão do crescimento entre os vários segmentos de atividade, para uma descrição mais precisa. Entre outubro e dezembro, a produção industrial foi 2,7% superior à de um ano antes. No acumulado de janeiro a dezembro a variação foi zero, mas também esse dado é pouco esclarecedor, porque encobre sensíveis diferenças de resultados de diversos segmentos da indústria. A de transformação, por exemplo, cresceu 1,7% e a extrativa se expandiu 4,3%, enquanto a da construção encolheu desastrosos 5%.
Não se trata apenas de enfeitar o quadro ou de apontar componentes mais vistosos num cenário pouco luminoso no conjunto. A mera reativação da economia depois de dois anos presa no atoleiro já seria um fato animador, mas há algo mais que isso. O desempenho mais vistoso foi certamente o da agropecuária, com expansão de 13% no ano. Além disso, os números iniciais da recuperação dependeram amplamente das estatísticas da atividade rural no primeiro trimestre. Mas o dinamismo se espalhou por outros setores, nos meses seguintes, e a retomada geral ficou muito mais clara no segundo semestre.
Vale a pena destacar a combinação de alguns detalhes muito positivos. Em primeiro lugar, a retomada ocorreu num cenário de inflação em queda. A alta moderada dos preços, combinada com sinais de melhora do emprego, permitiu às famílias o retorno às compras. O consumo privado cresceu 1% no ano e no trimestre final foi 2,6% maior que na mesma fase de 2016.
Enquanto isso o consumo do governo encolheu. O recuo foi de 0,6% no acumulado de janeiro a dezembro e de 0,4% na comparação dos últimos trimestres de 2017 e 2016. A reanimação da economia, centrada no setor privado, foi simultânea, portanto, ao esforço de ajuste das contas públicas, estropiadas pela mistura de irresponsabilidade e incompetência no período petista, especialmente nos anos finais.
Avançar nesse esforço será fundamental para a sustentação do crescimento e o controle da inflação. O conserto das finanças públicas dependerá da execução da pauta de reformas, incluída a da Previdência, posta de lado neste momento.
Para sustentar e intensificar o crescimento será também necessário investir mais, isto é, aumentar a aplicação de recursos em máquinas, equipamentos e obras. No ano passado, o valor investido foi 1,8% inferior ao de 2016 e correspondeu a 15,6% do PIB, uma participação muito abaixo da necessária. A meta de 24% foi buscada oficialmente por muitos anos e, embora modesta, ainda permanece distante.
Mas também no cenário do investimento, medido como formação bruta de capital fixo, há detalhes positivos. No quarto trimestre, o total investido foi 3,8% maior que o dos três meses finais de 2016. A maior parte do capital foi aplicada em máquinas e equipamentos, mas nos meses finais a construção começou a recuperar-se.
Enfim, o aumento do produto por habitante, depois de quatro anos de queda, é também um dado positivo. Em tese, aumentou 0,2% a fatia de bens e serviços à disposição de cada morador do Brasil.
Mas a divisão do bolo não é equilibrada, na prática, e mudanças politicamente complicadas serão necessárias para a redução da desigualdade. De toda forma, é animador ver o bolo crescer, de novo, mais que o número de comensais. Medidas para intensificar o crescimento econômico poderão servir ao mesmo tempo para a construção de uma sociedade mais igualitária. Exemplo: cortar o desperdício de recursos com incentivos mal planejados e favores a grupos privilegiados servirá aos dois objetivos.
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