quinta-feira, 15 de março de 2018

Alckmin diz que sua agenda de reformas é a de Temer

Por Estevão Taiar e Ricardo Mendonça | Valor Econômico

SÃO PAULO - O governador de São Paulo e pré-candidato do PSDB à Presidência da República, Geraldo Alckmin, disse ontem que a agenda de reformas liderada pelo presidente Michel Temer "é a necessária" para o Brasil. A declaração foi feita durante o primeiro dia de debates do Fórum Econômico Mundial para a América Latina, em São Paulo, que contou com a presença de ambos. Anteontem Alckmin ouviu uma avaliação de senadores de seu partido de que Temer está de fato inclinado a tentar a reeleição pelo MDB, apesar da alta rejeição, o que inviabilizaria uma aliança entre as duas siglas.

O tucano citou que o fórum ocorre num momento de desafios no Brasil e no exterior, "quando alguns partem para um protecionismo que não é adequado", em uma alusão à recente sobretaxa do aço imposta pelo presidente dos Estados Unidos Donald Trump, que pode afetar o Brasil.

Ele destacou a necessidade de enfrentar questões como a desigualdade de renda e a falta de segurança, além de promover a abertura econômica.

Falando a investidores e empresários, Alckmin ressaltou "o grande portfólio" promovido nos últimos anos de parcerias do governo paulista com a iniciativa privada.

Em sua fala na abertura do evento, Temer centrou sua fala na agenda de reformas mencionada por Alckmin. Explicou que não teve condições políticas de aprovar a da Previdência. Defendeu a intervenção federal adotada na área de segurança no Rio. No meio de seu discurso, anunciou que elevará os benefícios do Bolsa Família, mas não deu detalhes, como data ou percentual de correção.

Mais tarde, num painel sobre cenários para o Brasil, Alckmin (PSDB) voltou a defender a continuidade da agenda de reformas. Citou a política ("a mãe de todas as reformas", disse), uma simplificação tributária, a da Previdência e o que chamou de reforma do Estado.

Na saída, já longe do microfone, Alckmin criticou as regras eleitorais que o obrigam a renunciar até o dia 7 de abril para poder disputar a Presidência.

Conforme a legislação, governantes não precisam deixar o posto para disputar reeleição. Seria o caso de Temer, por exemplo, possível concorrente de Alckmin. Parlamentares também não são obrigados a renunciar, caso queiram disputar outro posto. É o exemplo do deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ). Mas ocupantes de cargos executivos interessados em concorrer a outro posto, como governadores, prefeitos e ministros, são obrigados a renunciar seis meses antes.

Além de Alckmin, estão nessa situação o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), pré-candidato a governador, e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD), entre outros.

"Toda a lógica da lei [eleitoral] é buscar um caráter isonômico, você ter igualdade de disputa. Agora, se você pode disputar o próprio cargo no cargo, no mandato, por que o cargo que você não está [ocupando] e disputa, você é obrigado a renunciar nove meses antes? Absurdo", afirmou.

Na concepção de Alckmin, todos os interessados em disputar eleição deveriam renunciar ou ninguém deveria ser obrigado a renunciar. "O que não pode é ter as duas coisas simultâneas [alguns renunciam, outro não]", completou.

Outra reclamação do governador é em relação ao prazo de campanha. "Já que a campanha é de 45 dias, por que obrigar a renunciar nove meses antes?", questionou. Na verdade, a renúncia precisa ocorrer seis meses antes. "Também sou crítico à campanha de 45 dias. Acho que, no fundo, isso dificulta para novas lideranças."

Em outra sala, Doria, que deve renunciar ao cargo para disputar o governo estadual pelo PSDB, participou de um painel sobre criação de um ambiente favorável para investimentos. Em tom de alerta, disse que o segundo turno da eleição presidencial será entre o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) e Bolsonaro, caso o que chamou de "uma alternativa de centro" não apresente um programa social "claro, convincente e empolgante". Não nominou quem seriam os candidatos de centro na sua concepção.

"Inclusão social é fundamental, é essencial para o país. A gente não pode virar as costas para a questão social", disse Doria. "Pode e deve, evidentemente, estimular o desenvolvimento econômico, mas tem de ter um programa claramente definido para a questão social. Será difícil um candidato de centro contagiar a opinião pública e se tornar vencedor se o centro não compreender que nós temos uma questão social para enfrentamento. Se não, o discurso populista, de esquerda e de direita, arrebata a população, arrebata os votos, e a disputa de segundo turno será entre dois extremistas: Ciro Gomes, pela esquerda, e Bolsonaro, pela direita", disse.

Na sequência, ele deu conselho de comunicação: "Não pode usar economês, não pode usar uma linguagem distante da linguagem compreensível da parte mais expressiva da população, as classes C, D e E".

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