terça-feira, 3 de abril de 2018

Bruno Boghossian: Palanque contaminado

- Folha de S. Paulo

Filiação ao MDB rompe bolha econômica em que ministro havia se refugiado

Ao deixar a Fazenda para encarar planos incertos de se candidatar ao Planalto, Henrique Meirelles se entrega à contaminação que será provocada pela vinculação de sua imagem à de Michel Temer. A filiação do ministro ao MDB no momento em que se acumulam suspeitas contra o presidente rompe uma blindagem política que o chefe da equipe econômica conseguiu preservar por quase dois anos.

Traído pelo PSD, seu atual partido, Meirelles percebeu que precisava topar qualquer negócio para realizar o sonho de disputar a Presidência da República. Concordou em entrar no MDB sem garantias de que poderá mesmo concorrer e ainda aceitou fazer uma defesa sem pudores do governo mais impopular em décadas.

O ministro passou a participar com frequência de atos públicos ao lado do chefe e começou a citá-lo nominalmente em discursos elogiosos. Nesta segunda, declarou “satisfação” em participar “de um governo que está transformando o país, liderado pelo presidente Temer”.

Segundo as regras do acordo entre o MDB e Meirelles, a defesa do legado econômico que servirá de plataforma para a pré-campanha do ministro deverá estar explicitamente associada à figura do presidente. Além disso, enquanto a sigla não decidir qual dos dois será candidato ao Planalto, a dupla deverá entoar em coro um discurso de “união”.

O acerto já era nocivo para Meirelles, mas piorou com a operação policial da semana passada que apertou o cerco a Temer. O pacto só ajuda o presidente, que pega carona no discurso do ministro sobre a retomada do crescimento para tentar reduzir o impacto dessas suspeitas.

Meirelles não tinha alternativa, mas sua entrada no MDB acontece em péssima hora. Com atuação política tímida, o ministro passou incólume às crises enfrentadas pelo governo, mas a assinatura de uma ficha de filiação abonada por Temer deve finalmente estourar a bolha econômica em que havia se refugiado.

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