terça-feira, 3 de abril de 2018

Fernando Exman: Tempos decisivos para os planos B

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-Valor Econômico 

Denúncia contra Temer facilitaria projeto de Meirelles

Coincidência ou não, foi apenas o presidente Michel Temer começar a falar abertamente sobre sua disposição de buscar a reeleição que novas flechas partiram da Procuradoria-Geral da República em direção ao Palácio do Planalto. No meio da semana passada, Temer e seus aliados, assim como os demais pré-candidatos à Presidência da República, aguardavam o retorno dos ministros do Supremo Tribunal Federal de um feriado prolongado para assistir à retomada das discussões sobre o pedido de habeas corpus feito pela defesa de Luiz Inácio Lula da Silva e tentar mensurar o impacto da decisão no projeto eleitoral do ex-presidente. Agora, no entanto, o Palácio do Planalto também precisa preparar um plano B.

A eventual alternativa governista já está desenhada: Henrique Meirelles está de saída do Ministério da Fazenda para se filiar ao MDB e estar pronto para entrar em campo. Pode até ser o principal beneficiado de uma frustração da candidatura de Temer, mas até lá precisará vencer diversos obstáculos. Em primeiro lugar, será compelido a se mostrar solidário a Temer para evitar passar a impressão de que torce pela derrocada do chefe, o que certamente o afastaria do grupo mais próximo ao presidente.

Diante dos recentes desdobramentos das investigações que apuram supostas irregularidades na edição do chamado decreto dos portos, auxiliares de Temer já não descartam mais a possibilidade de o presidente enfrentar uma terceira denúncia do Ministério Público Federal. Os órgãos de investigação trabalham para fechar o cerco a amigos e ex-assessores do presidente, como ficou demonstrado na semana passada durante a execução da Operação Skala.

Diante dessa situação, Temer e seus auxiliares não devem ter esquecido de algo que reclamavam durante as batalhas para arquivar as duas denúncias apresentadas por Rodrigo Janot, então procurador-geral da República. À época, não eram poucas as queixas, feitas à boca miúda, sobre a ausência do ministro da Fazenda em tensas reuniões nas quais estratégias de defesa eram debatidas. Tal comportamento ajudou a descolar a política da economia, apesar do fracasso do governo na tentativa de aprovação da reforma da Previdência. Mas pode não ter contribuído para a construção de uma relação de total confiança entre Meirelles, os emedebistas mais próximos a Temer e a atual cúpula do partido, que por fim acabarão decidindo o futuro do partido na disputa presidencial.

A princípio, o presidente deve resistir e manter sua pré-candidatura de pé o quanto achar possível. Temer acredita que seria o único candidato totalmente comprometido com a defesa das realizações de seu próprio governo. Garantindo uma ampla aliança, poderia acabar virando a opção preferencial dos eleitores de centro e chegar ao segundo turno.

A reforma ministerial desencadeada pela obrigatoriedade de desincompatibilização das autoridades que pretendem disputar cargos eletivos foi arquitetada, num primeiro momento, justamente com o objetivo de atrair os partidos aliados para a chapa do MDB. Agora, porém, também está sendo utilizada como um instrumento para manter a coesão da base, em meio às incertezas sobre o rumo das investigações relativas ao decreto dos portos. Os novos ministros podem até ter um verniz técnico, mas receberão a missão de ajudar o Executivo a manter uma ampla base congressual a postos e combativa. Afinal, quase todos os novos ministros alcançarão o primeiro escalão do governo federal em razão de suas ligações com legendas aliadas.

O Palácio do Planalto rechaça qualquer irregularidade envolvendo o decreto dos portos, mas o entorno do presidente já não vê total solidez na sua pré-candidatura. Além disso, as dificuldades enfrentadas pela intervenção federal na segurança pública do Estado do Rio de Janeiro podem acabar recolocando a economia como o principal trunfo eleitoral do candidato situacionista.

O cenário internacional é incerto, e uma guerra comercial de grandes proporções pode frear a recuperação da economia brasileira. Mesmo assim, a equipe econômica demonstra otimismo em relação a 2018, com a perspectiva de a retomada da atividade reduzir a ociosidade do setor produtivo e aumentar o emprego, a renda dos trabalhadores e os investimentos. Tudo isso com o aumento do consumo das famílias e uma maior oferta de crédito.

O governo precisará demonstrar que não está paralisado e continua a tocar suas prioridades, possivelmente tendo que superar dificuldades para fazer tramitar na Câmara dos Deputados os projetos de seu interesse. O presidente da Casa, Rodrigo Maia, lançou uma pré-candidatura ao Palácio do Planalto pelo DEM. Os articuladores políticos do governo monitoram os riscos de Maia abandonar a postura de garantidor da estabilidade que manteve durante as duas denúncias já enfrentadas por Temer.

Assim, repetida a estratégia adotada pelo governo no ano passado quando Janot disparou suas flechas, o Executivo deve passar a anunciar uma série de medidas positivas. A recente redução dos depósitos compulsórios, que deve liberar R$ 25,7 bilhões no sistema financeiro e aumentar a oferta de empréstimos, é um exemplo.

Hoje, Meirelles não apresenta bom desempenho nas pesquisas de intenção de voto e precisaria conseguir se manter em evidência após deixar o cargo de ministro da Fazenda. Mas tudo isso poderia dar um impulso a uma eventual candidatura à Presidência da República, caso Temer de fato deixe a disputa.

Meirelles sabe o que é negociar com os dirigentes do MDB. Em 2009, filiou-se ao partido almejando ser vice na chapa que seria encabeçada pela ex-presidente Dilma Rousseff (PT) na eleição do ano seguinte. Foi preterido e a vaga foi ocupada por Temer. Agora, retorna ao partido com a expectativa de ter mais apoio dos correligionários.

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