terça-feira, 24 de abril de 2018

Elevação das commodities põe expectativas em xeque: Editorial | Valor Econômico

A disparada do preço das commodities nas últimas semanas acendeu um sinal de alerta nos mercados. O petróleo, os metais industriais e os produtos agrícolas tiveram alta, repercutindo nos títulos americanos, no câmbio e nas ações. O índice CRB, que reflete o comportamento de 19 commodities, está ao redor do maior patamar desde 2015, em 201 pontos, com valorização próxima de 10% no ano e de 18% em doze meses. Mas ainda está bem distante do pico de 310 pontos que atingiu em junho de 2014, quando iniciou acentuada tendência de baixa, que o levou até os 180 pontos há quase um ano. Outros índices apresentam resultados semelhantes. O indicador de commodities primárias elaborado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) registra elevação de 16,9% entre agosto de 2017 e fevereiro.

A recente alta começou com o petróleo e não apresenta a mesma intensidade em todos os produtos. O petróleo do tipo Brent chegou perto de US$ 75 o barril na semana passada, o maior nível desde 2014, com elevação próxima de 50% em um ano, causada por uma combinação de fatores econômicos e geopolíticos. Há cerca de 16 meses os países produtores da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e a Rússia vêm reduzindo a produção e já retiraram 1,8 milhão de barris por dia do mercado. Nas últimas semanas, a tendência de elevação ganhou impulso com o receio de que os EUA imponham sanção contra as exportações de petróleo do Irã por conta da discussão nuclear, e com o crescente colapso da produção venezuelana.

Na área dos metais, os preços ganharam impulso após os EUA desencadearem a disputa comercial global nos segmentos de produtos siderúrgicos e alumínio, tendo como alvos especial a China. As sanções aplicadas à Rússia atingiram em cheio a produtora de alumínio Rusal, que deixou o mercado global sem o equivalente a 6% da produção total ou 3 milhões de toneladas, com repercussão também na alumina e nas indústrias europeias. Como a Rusal é acionista da Norilsk Nickel, os preços do níquel também subiram. A China detém 13% da oferta de alumínio.

A tendência não atinge todos os metais. O cobre, por exemplo, ficou para trás, até agora. No caso das commodities agrícolas, as altas são de menor intensidade e não são homogêneas. O mercado financeiro vem reagindo. Os títulos do Tesouro americano diante da preocupação com o aumento da inflação, e do receio de que os juros possam subir mais rapidamente do que se esperava. Naturalmente, a repercussão atinge o Brasil. Mas não há consenso entre os especialistas a respeito da tendência dos preços das commodities em um horizonte mais longo.

Há quem preveja que a guerra comercial dos Estados Unidos com a China, Rússia e demais países possa travar o comércio global, com impacto negativo nos mercados emergentes. Por outro lado, uma resposta da China, penalizando a soja americana, pode resultar em um prêmio para o produto brasileiro.

Esse cenário não impediu o FMI de expor expectativas positivas. Prevê crescimento global de 3,9% neste ano e no próximo, confiando principalmente nas políticas expansionistas ainda em curso nas principais economias, na inflação bem-comportada e na repercussão dos cortes de impostos promovidos pelo presidente Donald Trump. Os Estados Unidos devem crescer 2,9%. Já para a América Latina a estimativa de crescimento é de 2%, bem acima do 1,3% de 2017 que, como os demais emergentes, deve se beneficiar da recuperação do preço das commodities, estima o Fundo.

Para o Brasil, a atual elevação pode ser positiva, especialmente por estar combinada com um momento de inflação aparentemente domada em patamar baixo. Ainda assim, a previsão do Fundo para o crescimento da economia brasileira é de 2,3% para este ano.

Há várias dúvidas a respeito da manutenção da tendência das commodities. Muitas delas são difíceis de se prever uma vez que dependem de fatores geopolíticos. Entre eles estão a decisão dos Estados Unidos a respeito da prorrogação ou não das isenções concedidas ao Irã por conta do acordo nuclear, que deverá ser revisto em 12 de maio; e ainda a nova reunião da Opep para discutir a renovação do acordo de corte da produção, marcada para 22 de junho.

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