- Folha de S. Paulo
Sistema está dando conta de nos manter dentro do esquadro constitucional
Sei que é gostoso imaginar-se como parte de um movimento histórico, seja de resistência a golpes, seja de moralização do país, mas o fato de um pensamento inspirar sentimentos elevados não o torna verdadeiro. E a verdade é que, apesar dos muitos ruídos sugerindo o contrário, vivemos um período de normalidade democrática.
É uma democracia meio chinfrim, repleta de imperfeições, mas que está dando conta de nos manter dentro do esquadro constitucional numa conjuntura particularmente adversa, em que uma das maiores recessões da história se sobrepõe a uma crise política sem precedentes.
O estresse a que o sistema está sendo submetido não é pequeno. A Justiça está em vias de encarcerar um dos ex-presidentes mais populares de todos os tempos que lidera nas pesquisas eleitorais. O atual presidente está na mira da Promotoria. Uma presidente sofreu impeachment. Ainda assim ordens judiciais vão sendo cumpridas e as investigações seguem normalmente.
Mesmo o famigerado tuíte do general Eduardo Villas Bôas, se analisado friamente, pode ser interpretado tanto como pressão indevida sobre o STF (a parte em que fala do “repúdio à impunidade”), quanto como um compromisso com a democracia (o trecho do “respeito à Constituição”).
É evidente, contudo, que Villas Bôas, sabendo que vivemos tempos de polarização, em que declarações do chefe do Exército ganham carga explosiva, perdeu uma excelente oportunidade de calar-se. E Michel Temer está perdendo uma excelente oportunidade de passar o general para a reserva e com isso mostrar que acima das fardas estão o comando civil e a Constituição.
A liberdade de expressão também vale para militares. Mas eles precisam escolher entre ocupar postos na ativa, nos quais não podem palpitar sobre política, e vestir o pijama, situação em que podem exercer seu direito até de elogiar torturadores.
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