- O Globo
A prisão de Lula é o momento mais dramático da história do Partido dos Trabalhadores. Nem o impeachment de Dilma Rousseff representou um golpe tão duro na legenda, que governou o país por 13 anos e venceu as últimas quatro eleições presidenciais.
O PT foi apeado do poder, mas cultivava a esperança de voltar. Agora o futuro da sigla passa a ser uma incógnita. Ele estava atrelado, como sempre esteve, ao carisma e à liderança do ex-presidente.
Condenado em segunda instância, Lula já era inelegível por força da Lei da Ficha Limpa, que ele mesmo sancionou. Apesar de todo o desgaste, ainda liderava as pesquisas com folga. Ostentava cerca de um terço das intenções de voto.
Numa disputa entre muitos candidatos, sua atuação como cabo eleitoral parecia suficiente para empurrar um aliado até o segundo turno. Neste cenário, a outra vaga seria disputada entre políticos do campo conservador.
Na cadeia, Lula ficará afastado compulsoriamente da campanha. Isso tende a diluir sua influência e a dividir a esquerda. Aumenta a chance de a eleição ser decidida entre um candidato da centro-direita e o deputado Jair Bolsonaro.
Depois de perder a batalha na Justiça, o ex-presidente começa outra luta para tentar salvar o mito. Daqui para a frente, ele fará o possível para resgatar a aura do retirante que venceu a miséria, enfrentou a ditadura militar e se tornou o primeiro operário a governar o país.
Na segunda-feira, às vésperas de ter o habeas corpus negado, ele já assumiu um tom messiânico em discurso no Circo Voador. “Eles não vão prender meus pensamentos, não vão prender meus sonhos”, afirmou. “Se meu coração deixar de bater, ele baterá no coração de vocês”.
Ao chegar ao poder, Lula disse que não tinha “o direito de errar”. Ele reduziu a pobreza, impulsionou o crescimento da economia e saiu com aprovação recorde, mas descumpriu a promessa ao reproduzir velhas práticas e alianças.
Ontem adversários festejaram sua prisão repetindo que todos são iguais perante a lei. Seria bom, mas não é preciso simpatizar com o ex-presidente para notar que alguns políticos ainda são mais iguais que os outros. Basta dar uma olhada no Congresso e no Planalto.
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