- Folha de S. Paulo
Engrenagem da corrupção e outros personagens não serão eliminados automaticamente
Embora a ordem de prisão de Lula seja um episódio evidentemente emblemático, há desdobramentos que farão com que seus efeitos sejam recalculados com frequência. Convém, principalmente, evitar a armadilha de tratar esse momento como um ponto final da vida política do ex-presidente ou da narrativa do combate à corrupção.
A condenação do petista se confunde com um signo de êxito definitivo da Lava Jato porque Lula era um alvo explícito da operação. As investigações que o envolviam tiveram tratamento célere, assim como os julgamentos de seus processos.
Como personagem principal, o ex-presidente teve força para detonar movimentos dentro do Supremo Tribunal Federal para adiar sua prisão —sem sucesso. Em resposta direta, a Justiça Federal correu para evitar novas brechas e expediu em poucos minutos o mandado para seu encarceramento, antes mesmo da apresentação de um recurso final da defesa.
Lula e seus aliados tentam usar a seu favor as decisões judiciais e os holofotes da Lava Jato. Denunciam abusos para oferecer resistência e manter inflamado um movimento em torno do petista. O partido acredita que poderá reforçar a imagem de que o ex-presidente é vítima de perseguição para que ele preserve poder eleitoral caso seja libertado.
Advogados do ex-presidente contam com essa possibilidade, especialmente com a revisão do entendimento do STF sobre a prisão de condenados em segunda instância —caso de Lula. Sob pressão, o tribunal pode votar uma ação que questiona essa execução antecipada de penas, ferramenta chave da Lava Jato nos processos de corrupção.
A prisão do petista seria simbólica porque ele se beneficiou de um esquema de compadrio e corrupção de seu grupo político. É ilusório, porém, acreditar que essa engrenagem e atores de outros partidos serão eliminados automaticamente com o protagonista da vez. Restam novos capítulos antes do ponto final.
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