Vandson Lima, Raphael Di Cunto e Marina Falcão | Valor Econômico
BRASÍLIA E RECIFE - "Centro democrático" sim, mas sem chapa encabeçada pelo PSDB ou defesa do governo do presidente Michel Temer. A desejada coalizão de centro-direita que estaria sendo costurada nos bastidores por emedebistas e tucanos enfrenta forte resistência entre outros presidenciáveis classificados nesta vertente.
Um dos cotados para compor a aliança, inclusive como um possível vice de uma chapa com Geraldo Alckmin (PSDB), o senador e presidenciável Alvaro Dias (Podemos) descartou totalmente a costura como está sendo feita. "Obviamente eu não participaria de uma composição com MDB e PSDB. Eu quero é justamente romper com o sistema que eles representam. O centro democrático que eu vejo não é esse", afirmou o senador ao Valor.
Dias, que aparece em pesquisas recentes com até 5% das intenções de voto, expressa uma insatisfação que se estende a outros possíveis nomes considerados "de centro", mas que não querem estar subordinados a uma candidatura tucana - caso do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM).
Para o senador, muito mais atraente é uma aproximação entre seu partido, o DEM e o PRB, com vistas a uma candidatura única. "São partidos com candidaturas, mas que se colocam num ambiente mais favorável ao entendimento", alega. Dias avalia que, se vingasse este acordo, poderia até mesmo abrir mão de encabeçar a chapa. "Poderíamos nos unir e, mais à frente, ver quem entre eu, Maia ou Flávio Rocha [PRB] têm mais chance. E se não fosse meu nome, eu apoiaria o candidato", afirmou.
Já a possível candidatura de Alckmin agregando PSDB e MDB, para Alvaro Dias, está fadada ao fracasso. "Por que Alckmin na cabeça de chapa? Quem se apresenta dessa forma já coloca o obstáculo ao entendimento. Fiquem eles lá, num abraço de afogados. Não contem comigo".
Na mesma linha, Maia sugere que o ex-governador Geraldo Alckmin pode não ser o nome ideal para aglutinar as candidaturas ditas de "centro". "Não que eu não respeite o governador, que não admire o que ele fez em São Paulo. Mas acho que está na hora de uma mudança, uma renovação".
Na segunda-feira, em entrevista à "Rádio Bandeirantes", complementou o raciocínio. "Os candidatos de centro-direita, infelizmente neste momento, nenhum de nós têm a condição de chamar os outros para conversar e dizer: sou eu que lidero esse caminho", afirmou, listando, dentro deste campo, Alckmin e Alvaro Dias. Disse, durante a entrevista, aceitar o apoio do MDB de Temer, mas que não faria campanha "defendendo o passado" e não citou o emedebista entre os possíveis candidatos.
A aliados, o pré-candidato do DEM tem reconhecido a dificuldade de crescer nas pesquisas, mas lembra que ninguém está se movendo, já que a maioria da população está desinteressada na eleição neste momento, e garante que permanecerá na disputa pelo menos até junho, véspera das convenções para definir quem de fato concorrerá. Demonstra, contudo, preocupação em não ser acusado de responsável caso esse campo político não se aglutine e saia derrotado pelos "extremos".
Ao Valor, o presidente da Câmara disse que "obviamente" não vão sobrar 22 candidaturas à Presidência até o início da campanha, mas acredita que sua postulação tem um espaço grande a ocupar ainda. "As pesquisas não serão o melhor caminho para decidir. E a ansiedade vai ser o pior caminho". Para Maia, é preciso muita paciência no momento. "O Brasil vive uma crise grande e o eleitor está afastado. No momento, todos os candidatos têm chance e nenhum têm chance".
Pré-candidato à Presidência pelo PRB, o empresário Flávio Rocha vê com bons olhos as articulações para unificar as candidaturas que se nomeiam de "centro" em torno de um único nome, mas diz que a definição sobre qual candidato vai ter o apoio dos demais não deve ser agora. "É natural que vai afunilar. Mas a data de corte disso deve ser lá para a frente, às vésperas das convenções porque agora está tudo em aberto nas pesquisas", disse ao Valor.
Segundo Rocha, entre as candidaturas ditas de centro hoje colocadas, a sua é que tem mais chances de decolar. "Estou confiante que vou angariar esses apoios, estamos com agenda mais intensa. Quem estiver na frente [nas pesquisas] é que vai ter. Sou o mais desconhecido entre os candidatos e já figuro com 1%, 1,5% 42% ainda não sabe em quem votar", disse.
Partidos do Centrão, PP, PSD e PR aguardam o cenário ficar mais claro para definirem seu candidato, mas fazem ressalvas a Alckmin, que teria estimulado o PSDB a atuar a favor das denúncias contra Temer, caminho contrário ao destas legendas. O ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa (PSB), nome que transita pelo centro e com posições liberais, é visto com ainda mais restrições pela falta de contato com os políticos e pela fama de "justiceiro". Valdemar Costa Neto, que comanda com mão de ferro o PR, foi inclusive condenado por Barbosa no mensalão.
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