A persistência do desemprego dificulta a retomada, por limitar o consumo das famílias, enquanto as incertezas eleitorais freiam investimentos
Velhas teorias simplistas de ciência política estabeleciam que tudo dependia da economia. O tempo mostrou que nada é tão simples. Se assim fosse, numa visão estreita da realidade brasileira, o relativo êxito do governo de Michel Temer neste campo, graças à equipe econômica que montou, para o enfrentamento da mais grave crise desde a grande depressão mundial de 29/30 — consideradas as diferenças históricas —, todos os caminhos estariam aplainados para o país, seu presidente e grupo.
Falso, como se sabe. A popularidade de Temer é a mais baixa entre os presidentes monitorados por este tipo de pesquisa, o sonho da candidatura à reeleição, por decorrência, virou pesadelo, e por aí segue. E há, ainda, evidências de que é a política que intoxica a economia, numa inversão da velha e ilusória regra.
A tempestade herdada por Temer do dirigista “novo marco macroeconômico” lulopetista, aplicado com eficiência por Dilma Rousseff, portanto com efeitos desastrosos (déficit público nas nuvens, inflação de volta aos dois dígitos, PIB em queda recorde de quase 8% em dois anos), foi debelada, mas a recuperação da economia não tem confirmado as expectativas iniciais. E a política tem responsabilidade, em alguma medida, por esta frustração.
O governo acaba de rever a previsão de crescimento para este ano de 3% para 2,7%. O último relatório Focus, do Banco Central, com a mediana das projeções da expansão do PIB feitas pelos principais departamentos de análises do mercado financeiro, reduziu a estimativa, em um mês, de 2,84% para 2,75%. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-BR), por sua vez, que serve para antecipar o PIB, caiu 0,56% em janeiro, com relação a dezembro.
Os “heterodoxos”, hoje na oposição, aproveitam os sinais de debilidade da recuperação para criticar o controle fiscal onde é possível controlar (porque 90% do Orçamento são de gastos fixos e carimbados).
Mas não há alternativa à austeridade, diante de uma relação dívida/PIB rumo aos 80%, numa alta sem controle, até ser feita uma reforma consequente da Previdência, a locomotiva que puxa o déficit nas contas públicas.
A falta de tração do PIB é estranha à primeira vista, diante das condições positivas existentes: inflação no chão, abaixo de 4%; incentivo à liquidez e ao consumo (liberação do FGTS); corte importante e natural dos juros básicos (Selic), para pouco mais de 6%, tendo estado na faixa de dois dígitos não faz muito tempo. Não se tem registro de mergulho tão profundo dos juros básicos.
Mas a economia não reage como era esperado. Até o desemprego médio do primeiro trimestre, monitorado pelo IBGE, subiu, em relação aos três meses anteriores, de 11,8% para 13,1%. São 13,7 milhões de pessoas sem emprego, um drama social de enormes proporções e inibidor da retomada, um efeito que se retroalimenta. O desemprego é fator de obstrução do crescimento, porque impede a retomada do consumo de famílias.
Já o quadro de indefinições político-eleitorais atua como freio dos investimentos, outra mola essencial para impulsionar o PIB. Neste contexto, pesquisas eleitorais terão razoável impacto nas expectativas.
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