quinta-feira, 3 de maio de 2018

Faltou trabalhador: Editorial | O Estado de S. Paulo

A Polícia Militar do Paraná informou que cerca de 5 mil pessoas estiveram presentes naquela que prometia ser uma das maiores mobilizações sindicais da história do País. Pode-se dizer que havia mais sindicalistas e políticos que trabalhadores no evento do Dia do Trabalhador em Curitiba, o primeiro a reunir sete centrais sindicais.

A ideia era fazer uma poderosa demonstração de força em apoio ao ex-presidente Lula, preso em Curitiba por corrupção e lavagem de dinheiro, mas o ato acabou confirmando aquilo que já se intuía há muito tempo: sem o dinheiro da contribuição sindical e, consequentemente, sem capacidade de contratar artistas populares a peso de ouro e de sortear prêmios valiosos, as centrais carecem de argumentos realmente sólidos para convencer o trabalhador a sair de casa e participar de um protesto no feriado do Primeiro de Maio. E dificilmente o apelo à defesa de Lula da Silva seria capaz de mobilizar esses trabalhadores, uma vez que se trata de um corrupto condenado e todos sabem de quem era o dinheiro que transitou nas tenebrosas transações. A minguada vigília petista por Lula em Curitiba, que certamente se esvaziará ainda mais à medida que avançar o tradicionalmente rigoroso inverno da capital paranaense, é prova disso.

Portanto, resta contar somente com os manifestantes profissionais, aqueles que recebem lanche e transporte para engrossar os comícios político-sindicais e aparecer em fotos tiradas convenientemente em ângulos fechados, para dar a impressão de multidão onde só há um punhado de gatos pingados. Como há cada vez menos dinheiro até para o pão com mortadela, é necessário cada vez mais caprichar na retórica retumbante contra o “grande capital” e os “golpistas” e falar em “milhares de manifestantes” onde há apenas algumas dezenas de incautos arregimentados para simular multidão.

Não se chega a esse estado de coisas sem grande esforço. Graças à famigerada contribuição sindical, que arrancava dos trabalhadores vultosos recursos para financiar a dolce vita dos que se escoram no trabalho alheio, os sindicatos tornaram-se poderosas máquinas a serviço de partidos - sendo a CUT, braço do PT, apenas a mais vistosa delas.

Dessa maneira, raros eram os trabalhadores que se sentiam realmente representados por essas organizações, pois as reivindicações trabalhistas dali emanadas sempre foram mero pretexto para sustentar uma agenda explicitamente político-partidária. A título de defender o emprego e os “direitos trabalhistas”, os sindicatos sabotaram todas as tentativas de modernização do mercado de trabalho nacional, sem falar em sua sistemática campanha contra a reforma da Previdência, contribuindo decisivamente para ampliar a crise e, consequentemente, o desemprego. Mas, afinal, os desempregados nunca foram a preocupação desses ergofóbicos.

Por tudo isso, não surpreende que os trabalhadores tenham ignorado solenemente a convocação das centrais sindicais para defender Lula, como já haviam ignorado chamamentos semelhantes para defender o governo de Dilma Rousseff.

Ninguém parece ter se sensibilizado com a promessa de uma mobilização “histórica”, na “luta pela democracia e pelo direito de Lula de ser candidato”, conforme bravateou um dos sindicalistas quando o ato unificado foi anunciado. Tampouco causou sensação o objetivo de “sinalizar ao grande capital e à direita que a esquerda e o campo popular vão vencer as eleições e revogar todo esse lixo que o golpe quer impor sobre o povo brasileiro”, segundo disse outro sindicalista.

Nem mesmo um apelo do próprio Lula foi capaz de comover a companheirada. Em mensagem divulgada na véspera do Dia do Trabalhador, o ex-presidente disse que o “Primeiro de Maio unificado”, em referência à mobilização de diversas centrais sindicais, trazia “esperança” que “nos fortalece para superarmos o triste momento presente e para construir um futuro de paz e prosperidade”.

São poucos os trabalhadores que se dispõem a servir de massa de manobra para objetivos políticos tão explícitos. Lula já não vale um show sem graça.

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