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O que sucederá à marcha da insensatez
Tem alguma coisa muito errada quando você vê Rodrigo Maia e Guilherme Boulos do mesmo lado, Jair Bolsonaro e a Central Única dos Trabalhadores, generais golpistas de pijama e trabalhadores escravos que dirigem caminhões por 12, 15 horas diárias em troca de um a três salários mínimos quando têm sorte.
Pois ontem foi assim, o quarto dia da greve geral de patrões e empregados do sistema de transporte de carga que paralisou o país. O simples ato de encher um tanque de gasolina virou uma gincana disputada por quem tivesse necessidade ou tempo de sobra para gastar. Voar na hora marcada? Coisa para abençoados.
Comprar batata a preço justo? Aonde? Tomar ônibus ou metrô abarrotados como de costume? Havia mais gente empilhada dentro quando havia ônibus, e mais gente ainda dentro do metrô que dispensa gasolina, álcool e diesel para se locomover. E o WhattsApp estava entupido de mensagens alarmantes.
Mas o presidente da Câmara e o candidato do PSOL estavam de acordo: o governo exorbitara ao usar a força para pôr fim à greve dos caminhoneiros. Bolsonaro, generais aposentados e centrais sindicais estavam de acordo: é relativo o direito de ir e de vir assegurado na Constituição. E de comer. E de tratar da saúde
E tudo por um punhado de votos que ajudem Maia, Boulos e Bolsonaro a se eleger presidente da República. Ou que as centrais sindicais possam transferir a seus candidatos em outubro próximo. Ou que comandantes sem tropa possam alegar que dispõem para convencer a caserna de que a ditadura é a melhor solução.
A aliança da direita brucutu com a esquerda burra – a se admitir que exista uma direita civilizada e uma esquerda inteligente -, é sinal que a saída da crise, de qualquer crise, jamais deverá passar pelos extremos. Tampouco a saída estará na conciliação pela conciliação. Fosse assim, este país não seria tão brutalmente desigual como é.
A marcha da insensatez haverá de dar lugar à marcha de uma sociedade cada vez mais organizada e esclarecida que aprenderá errando a brigar por seus direitos em uma democracia que não seja apenas de fachada.
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