O ex-ministro e ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles tem muito a dizer na economia, o candidato Henrique Meirelles dá os primeiros passos num partido cheio de divisões e que nega, na sua essência, parte do seu discurso. Ele diz que a primeira pessoa que quis que ele fosse candidato foi o senador Romero Jucá, e em seguida diz que defende a Lava-Jato.
Jucá disse que a Lava-Jato era uma sangria que precisava ser estancada. Portanto, essa é uma contradição insanável do entorno político de Meirelles. E não é a única. Na entrevista que concedeu ao “Valor”, ele foi perguntado sobre como seria seu apoio no Rio. A resposta foi: “Eu trato com o governador Pezão e com o deputado Leonardo Picciani”. Com essas companhias, fica estranha a frase: “Acho importante fortalecer e solidificar a Lava-Jato. É importante que o país conclua essa fase de fortalecimento das instituições.” O MDB é apenas um dos vários partidos envolvidos nas investigações da Lava-Jato, mas a resposta soa estranha dentro do partido de um presidente investigado.
Seu maior risco é permanecer com 1% das intenções de voto. Na entrevista se vê que ele ainda está tentando convencer o interlocutor de que é mesmo candidato. Na economia, ele tem a dizer que quando foi para o governo Lula ajudou a afastar o medo que se tinha de uma política populista que colocasse a perder o Plano Real. E que agora, ao voltar ao governo, fez parte do trabalho que reduziu drasticamente a inflação. Quando fala de economia, ele se sai bem, mas mostra, nas outras perguntas, a falta de traquejo político.
Sua tese é a de que o país saiu da recessão e que portanto não é candidato para propor “uma fase de sangue e lágrimas”. Essa fase já acabou, segundo ele. “O problema era atravessar a recessão que a Dilma criou. Só que já saímos dela. O ponto é não voltarmos para ela.” Meirelles contava desde o início com o cenário de que durante o ano o país iria acelerar o crescimento e que isso daria conforto econômico às pessoas. Mas não é isso que está posto como futuro próximo. O Brasil patina. A última previsão de crescimento pelo Focus é de 1,55%. O desemprego permanece alto e não há qualquer esperança de que ele caia fortemente. De fato o Brasil está melhor agora do que na recessão iniciada no governo Dilma e que consumiu 11 trimestres de 2014 a 2016. Mas essa é uma saída claudicante.
O Banco Central na Ata do Copom divulgada ontem disse que a perda do ritmo de recuperação é temporária e que no segundo semestre a economia pode voltar a ter indicadores melhores, como teve em abril. Pode ser que o pior tenha ficado em maio e junho, meses atingidos em cheio pela greve do setor de transporte de carga. Mas houve também, por outros motivos além da greve, uma queda de confiança do consumidor e do empresário e uma redução de investimentos. Isso levou à redução geral das previsões de crescimento do ano.
Meirelles tem algumas boas respostas para perguntas difíceis, como, por exemplo, como ele fará para não ser confundido com o presidente Michel Temer. “Me orgulho do que eu fiz no governo Temer, como me orgulho muito do que eu fiz no governo Lula. Eu nunca temi ser confundido com o governo Lula nem com o Temer.”
Ele defende que se o país eleger um governo populista, que não tenha compromissos com a reforma, enfrentará uma crise de elevação da dívida. Concentra suas críticas no governo Dilma, e não no governo Lula do qual participou, e quer se vincular aos bons períodos da economia. “Eu fui presidente do Banco Central por oito anos e o Brasil cresceu, gerou renda, gerou capacidade de consumo. Saí do governo, entramos em recessão. Voltei para o governo, o Brasil saiu da recessão.”
O problema desse discurso é que a boa fase de crescimento não é atribuída a ele. E a saída da recessão agora é muito fraca e lenta e num ambiente de forte desemprego. A campanha está só começando e Meirelles ainda precisa convencer o seu próprio partido de que tudo isso valerá a pena. A última vez que o PMDB teve candidato foi em 1994. Nas últimas cinco eleições preferiu aderir a alguma candidatura.
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