A incerteza, uma das piores pragas da economia brasileira neste momento, bateu mais duramente na mesa de reuniões do Copom, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (BC). Na semana passada o comitê decidiu manter em 6,50% a taxa básica de juros, a Selic. A decisão e suas motivações foram informadas em nota distribuída logo depois, no começo da noite de quarta-feira, dia 20.
Cumpriu-se um ritual com esse comunicado, mas analistas do setor financeiro logo chamaram a atenção para um detalhe um tanto surpreendente. Não se viu, no texto, uma sinalização da tendência das próximas deliberações. Embora nem sempre confirmadas, indicações desse tipo haviam aparecido em várias notas e atas anteriores. A explicação veio na ata divulgada seis dias depois da reunião: “Em termos de sinalização futura, todos concordaram em que o maior nível de incerteza da atual conjuntura recomenda se abster de fornecer indicações sobre os próximos passos da política monetária”.
O recado continua firme e claro, no entanto, quanto a um ponto. A inflação será mantida como foco principal das decisões. O BC intervirá no mercado, quando necessário, para neutralizar ou atenuar grandes oscilações cambiais. Mas a política monetária será usada, como até agora, como instrumento para a condução da inflação à meta oficial. Não se elevará a taxa básica de juros para conter a alta do dólar. Medidas monetárias serão empregadas, no entanto, para combater efeitos secundários do câmbio na evolução geral dos preços, isto é, para conter seus impactos inflacionários, quando forem evidenciados.
Embora importante como orientação para o mercado, esta definição dos objetivos e do alcance da política monetária é apenas a reafirmação de um critério já apresentado mais de uma vez. Também se levarão em conta, nas decisões do Copom, o ritmo da atividade econômica e a eventual conveniência de um estímulo monetário. Mas a inflação se manterá como o tema central.
Manter uma política estimulante foi mais uma vez a razão alegada para a insistência na taxa básica de 6,50% ao ano. Também foram consideradas, naturalmente, projeções de inflação com juros constantes nesse nível e câmbio mais alto. Os cálculos apontaram inflação ainda compatível com a meta oficial até 2019. Não haveria, portanto, um bom argumento a favor da alta de juros, linha de ação defendida por vários agentes do mercado.
Mas como ficarão as condições de crédito a partir da próxima reunião do Copom, programada para agosto? Os membros do Copom, diretores do BC, preferiram abster-se, cautelosamente, de qualquer indicação.
Os fatores de incerteza são muitos. A crise do transporte rodoviário de carga, em maio, é um dos mais importantes. Seus efeitos sobre os preços podem ter sido passageiros, mas isso é incerto e os desdobramentos da paralisação do transporte ainda são desconhecidos. A paralisação é citada cinco vezes na ata, em diferentes momentos, e a primeira referência aparece no primeiro dos 33 parágrafos.
As dúvidas envolvem, naturalmente, as condições de crescimento. A recuperação continua, mas em ritmo mais gradual do que antes. O advérbio “mais” é uma novidade.
O cenário externo, por muito tempo descrito como benigno, passou a desafiador, há pouco tempo, e agora é “mais desafiador”, com “redução do apetite de risco em relação às economias emergentes”. As pressões cambiais sobre os países emergentes, com fuga de dólares, estão implícitas. Mas o texto enfatiza também, noutro ponto, as ameaças à expansão do comércio internacional, “com possíveis impactos sobre o crescimento global”.
Há enfim, seis menções a ajustes e reformas e ao perigo de frustração das expectativas e de seus efeitos sobre prêmios de risco e a formação dos preços. Há ainda referência à importância de ações para aumento da eficiência, da flexibilidade econômica e da melhora do ambiente dos negócios. Diplomaticamente, os autores da ata se abstiveram de vincular essas questões às incertezas políticas. Mas o recado é claro, mesmo sem tratar da pobreza do debate eleitoral.
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