Por Vandson Lima e Raymundo Costa | Valor Econômico
BRASÍLIA - Mal conseguiu rearticular o PSDB, Geraldo Alckmin é alvo de uma nova tentativa de troca do candidato do partido à Presidência. Liderada pelo Centrão da Câmara, a manobra consiste em colocar o ex-prefeito de São Paulo João Doria em seu lugar. O ex-governador paulista comporia a chapa de Doria à Presidência da República, sendo deslocado para uma candidatura ao Senado, junto com o jornalista José Luiz Datena.
Os radares da campanha de Alckmin detectaram o movimento. A avaliação, no momento, é que nenhum outro partido ou grupo tucano do PSDB e do MDB têm força para levar o ex-governador a retirar sua candidatura. Segundo apurou o Valor, Alckmin avançou na montagem da chapa ao governo de São Paulo, numa articulação bem sucedida para levar Datena a uma das vagas na chapa para o Senado.
O acordo se deu em um jantar na casa do ministro das Comunicações Gilberto Kassab (PSD). Além de Alckmin e Doria, estiveram tucanos do Rio de Janeiro (Otávio Leite e Índio da Costa), Minas Gerais, representados por Pimenta da Veiga, tucano ligado a Aécio Neves, e o coordenador da campanha, Marconi Perillo.
A composição da mesa indica uma união em torno de Alckmin, mas os presentes ao jantar disseram que não se tratou da candidatura nacional. Todos também conheciam a articulação realizada pelo Centrão. Parte do PSDB quer a substituição do candidato, assim como parte do MDB aceitaria uma aliança, se o candidato fosse Doria. A campanha de Alckmin, até agora, quer distância do MDB, um partido desgastado eleitoralmente.
A ideia da troca passou pelo gabinete do presidente Michel Temer e integrantes do grupo mais próximo a ele, numa tentativa de envolver o MDB, ou pelo menos parte dele, na articulação. A notícia de que o DEM poderia lançar Datena candidato a presidente serviria para tumultuar o ambiente político em São Paulo e tentar levar o PSDB a buscar outro nome ao Palácio do Planalto. A manobra pareceu muito clara ao QG eleitoral de Alckmin.
Primeiro, foi o jantar, organizado pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), com o presidente Temer e o ministro de Minas e Energia, Moreira Franco, no início da semana passada. Dias depois, Temer e Maia se juntaram ao senador Aécio Neves (PSDB-MG), em encontro não oficial. Aécio e Temer, inclusive, tiveram antes outros cinco encontros oficiais privados desde que o tucano virou réu no STF por conta do caso da J&F, em 17 de abril.
Nos dois eventos citados, a troca de Alckmin por Doria foi expressamente abordada. Os palacianos, segundo relatos, ouviram atentos, mas não se comprometeram com a empreitada. Reclamaram de que o grupo não tinha "nada concreto" para apresentar.
Para o MDB, a troca implicaria na retirada de seu pré-candidato Henrique Meirelles. Alguns emedebistas do primeiro escalão chegaram a classificar de "infantil" a articulação liderada pelo DEM.
Temer, amigo de Doria, seria um entusiasta da mudança, inclusive para abrir caminho à candidatura do emedebista Paulo Skaf ao governo de São Paulo.
Ao espalhar a hipótese de Datena como candidato a presidente, o movimento do DEM fica nítido, diz o entorno de Alckmin: Datena é uma espécie de "bode na sala". Sua candidatura real é ao Senado. Mas colocá-lo neste momento como postulante ao Planalto é uma estratégia para forçar o PSDB a se abrir à possibilidade de mudar seu cabeça de chapa, para garantir o apoio do DEM e dos partidos que o acompanham na Câmara.
Em uma das conversas com os tucanos, o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI) expôs o que domina o pensamento do Centrão: Alckmin é visto como um candidato preparado, mas a ideia é entrar na coligação que vai ganhar a eleição. Seja Alckmin, Ciro Gomes (PDT) ou outro.
Na terça-feira, Alckmin terá a chance de reverter as confabulações contra ele. Será o convidado de um jantar na casa de Maia com os caciques do Centrão, nos mesmos moldes do convescote oferecido na semana passada a Ciro Gomes e, ontem à noite, a Flávio Rocha (PRB).
Em um discreto evento de comemoração dos 30 anos do PSDB, em Brasília, a sigla informou ontem os valores do fundo partidário que serão gastos nas eleições de 2018. Os tucanos empenharão, no total, R$ 185 milhões. Cumprindo a determinação do Superior Tribunal Federal (STF), que fixou um patamar mínimo de 30% dos fundos destinados às campanhas de mulheres, o PSDB repassará R$ 55 milhões às suas candidatas.
A campanha presidencial receberá aproximadamente R$ 43 milhões. O mesmo valor será encaminhado para campanhas de governadores e senadores do PSDB. Igualmente outros R$ 43 milhões serão usados utilizados para as campanhas a deputado.
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