FMI prevê inflação de um milhão por cento este ano e total erosão do bolívar. Violência e desabastecimento continuam estimulando êxodo de refugiados
Dados divulgados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) no início desta semana mostram que as condições de vida na Venezuela alcançaram um patamar sem precedentes de desintegração. A inflação anual em junho foi de 46.000%, e deve fechar o ano em torno de 1.000.000%, patamar só comparável ao Zimbábue dos anos 2000 e à Alemanha de 1923. A erosão do bolívar é de tal magnitude que o comércio — dos supermercados aos camelôs — está recusando a moeda nacional.
A economia do país, ainda segundo o FMI, deve encolher 18% este ano, depois de ter perdido cerca de 40% nos últimos cinco anos. O país detém as maiores reservas mundiais de petróleo e gás natural, setor responsável por 96% de suas receitas. Com a desvalorização dessas commodities, a Venezuela perdeu sua fonte de recursos e percebeu o erro de ter uma economia pouco diversificada. À medida que as dificuldades foram se avolumando e sua estatal do setor, a PDVSA, foi sendo sucateada pelo governo, a infraestrutura petrolífera também terminou afetada, a tal ponto que o país não pôde se beneficiar da recente recuperação dos preços do barril.
A economia venezuelana também pagou o preço de financiar o projeto bolivariano de Hugo Chávez, subsidiando países aliados, como Nicarágua e Cuba. O regime brigou com o setor produtivo, nacionalizando empresas, não só afugentando investimentos, mas provocando a ruptura de cadeias produtivas importantes. O resultado tem sido uma crise de abastecimento tanto de serviços públicos, como saneamento e o fornecimento de água e energia elétrica, quanto de produtos básicos, sobretudo alimentos e remédios.
Com a escassez, é preciso senha para comprar em supermercados. A falta de alimentos, remédios e vacinas provocou a volta de doenças já erradicadas, como sarampo e sarna. Aumentaram os casos de doenças sexualmente transmissíveis, e a taxa de natalidade subiu, devido à falta de anticoncepcionais. Com o êxodo de venezuelanos para países vizinhos, em fuga da crise, essas doenças também estão ressurgindo nas nações de acolhimento dos refugiados, caso do Brasil. A ONU estima que 1,5 milhão de venezuelanos deixaram o país nos últimos anos.
A violência política, que recrudesceu com Nicolás Maduro, é a outra ponta da crise humanitária. Relatório do Human Rights Watch, de novembro de 2017, revela todo tipo de violação dos direitos humanos. Além da repressão contra manifestantes — foram 124 mortos e dois mil feridos em 2017 —, há relatos de prisões arbitrárias e tortura. A crise também estimula a criminalidade. Segundo o Observatório Venezuelano da Violência, 28.479 pessoas foram mortas em 2016, elevando a taxa de homicídios para 91,8 por cem mil habitantes.
À medida que a realidade sepulta de uma vez por todas o ilusionismo bolivariano, à população só resta sobreviver acuada ou buscar refúgio nos países vizinhos, num fluxo contínuo e crescente. Triste situação, antevista pelos antichavistas.
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