Google e Facebook desafiam a regulação de sistemas antitrustes aplicados nos EUA desde o início do século XX, mas agora a atuação dessas empresas é global
No último dia 19, a União Europeia multou o Google em € 4,3 bilhões por práticas anticompetitivas ligadas ao seu sistema Android para celulares. Foi a maior penalidade já imposta pelos reguladores antitruste da UE numa briga que está apenas começando.
Por conta do que a teoria econômica chama de Efeito de Rede, estas empresas digitais tendem ao monopólio. Sejam serviços de busca, redes sociais, mapas de trânsito ou aplicativos de mensagem, quanto mais usuários têm, mais úteis ficam. Porque o processo de inteligência artificial faz com que os algoritmos se tornem mais eficientes de acordo com o número de usuários, os serviços também ficam melhores. Quanto maior, melhor fica, mais gente atrai e menos sobra para concorrentes. É um tipo novo de monopólio. Mas se porta como os monopólios antigos.
A lógica anticompetitiva começa nas aquisições. A prática do Google vem sendo se aproveitar dos bolsos fundos para comprar startups que lhe permitam ampliar seu domínio sobre outros mercados. É o caso do próprio Android, assim como do YouTube ou mesmo do Waze. Já o Facebook compra para impedir que qualquer um cresça no ambiente social a ponto de ameaçá-lo. Foi assim com Instagram e WhatsApp. Como o SnapChat recusou a venda, o Facebook copiou os principais recursos do adversário, pôs no Instagram, sufocando o concorrente. O método de ação monopolista do Google, porém, se dá na forma como explora a busca, espaço que domina. Historicamente, dá destaque às suas buscas especializadas, como de pesquisa de preços ou resenha de lugares públicos, impedindo que usuários encontrem os concorrentes. O Yelp!, uma das startups mais promissoras dos anos 2000, minguou por ter sumido do Google — e este é outro processo pelo qual a empresa já foi multada na UE.
Já o Facebook opera minando a rede aberta. Jamais permitiu que links fossem inseridos nas palavras, como se dá no resto da internet. Mais recentemente, argumentando que deseja incentivar conversas entre amigos, passou a distribuir menos postagens com links externos. Mantém todos dentro de sua rede, no ambiente que controla, e no qual só seu sistema publicitário funciona.
E publicidade é o elo que junta tudo. São, ambas, empresas sustentadas por publicidade e que distribuem informação, embora neguem ser empresas de mídia. Em 2017, segundo a Statista, representavam 61% da publicidade on-line em todo mundo. E a concentração está se ampliando. Juntas, foram responsáveis por 90% do crescimento deste mercado, no mesmo ano, de acordo com o IAB. Têm controle sobre quem chega aos sites e sobre o dinheiro feito.
No século XX, dois grandes casos antitruste fizeram história, nos EUA. Na primeira década, da petroleira Standard Oil. Nos anos 1980, da Bell Company, de telefonia. As empresas digitais oferecem para os reguladores um desafio maior. São americanas — mas seu alcance é o mundo todo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário