- Valor Econômico
Alckmin-Ana Amélia pode reeditar racha no mapa eleitoral
A definição das chapas que irão concorrer ao comando da República em outubro diminui o grau de incerteza do processo eleitoral por oficializar quem está com quem, mas nada acrescenta sobre as perspectivas econômicas pós-eleição. Nesse campo impera uma certeza: o próximo presidente brasileiro, independentemente de partido, credo ou sexo terá de "vender" crescimento e emprego ao eleitor na tentativa de tirá-lo de sua apatia. É certo, contudo, que ele terá brutal dificuldade de entregar essa mercadoria em um, dois, três ou quatro anos, se não correr atrás da agenda de reformas e convicto de que a agenda não é ideológica, mas econômica.
Sem esse compromisso, não há eleição que tire a economia brasileira do gelo em que patina há quatro anos. Não há estatística que dê sumiço em 13 milhões de desempregados. E também não haverá dinheiro suficiente - para devolver a quem de direito - e encorajar cidadãos de bom senso a se aventurar no consumo.
Indicadores positivos de atividade recém divulgados sugerem que a economia reage bem. Na prática, porém, os dados tiram um atraso estatístico provocado pela greve dos caminhoneiros entre maio e junho. Há uma reposição de perdas decorrentes da interrupção de processos causados pela paralisação. Projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) seguem achatadas.
Depois de pressionada pelo desabastecimento de produtos, a inflação ensaia retomar seu ciclo sazonal. E deve fechar o ano mais próxima da meta de 4,5% do que de 2,6% cravados no ano passado, como rezou o Banco Central (BC) durante meses.
O sistema financeiro também regulariza procedimentos, desempoçando dinheiro.
Cerca de R$ 200 bilhões, do total de R$ 1 trilhão pendurados temporariamente há dois anos em títulos da dívida federal no BC, zanzaram no sistema financeiro nos últimos dois meses sem maiores consequências, mas são úteis sobre variáveis que podem perturbar o calendário eleitoral.
Em meados de junho, R$ 140 bilhões aplicados por instituições no BC saíram de prazos mais longos para 1 dia devido a uma soma de fatores incomuns, de graves consequências e nem sempre passíveis de algum controle: a crescente tensão externa derivada de retaliações tarifárias que levaram a um confronto mais que retórico entre EUA e China; a greve dos caminhoneiros por aqui em protesto contra o preço do diesel; o questionamento sobre a formação de preços dos combustíveis pela Petrobras; a saída de Pedro Parente da presidência da estatal; a escancarada fragilidade do governo Temer para administrar a crise; e uma sinalização controversa do BC sobre a Selic.
A ideia de que, por não ter reduzido o juro quando a expectativa era essa, o Copom poderia subir a Selic em agosto - na reunião encerrada na quarta-feira - fez com que instituições permanecessem no curto prazo. Essa posição foi alimentada também pela retração do Tesouro, que suspendeu momentaneamente leilões de venda de títulos tornando-se comprador para rebalancear preços.
Há duas semanas, os bancos começaram a desmontar operações curtas e R$ 75 bilhões foram destinados a outros títulos. Nesses dois meses, empresas que mantém dinheiro em títulos públicos no curto prazo, não se moveram. Conservaram um estoque de R$ 110 bilhões em operações compromissadas com o BC.
Com muito dinheiro disponível, mas bem comportado, o mercado segue para as eleições e entende que o quadro político estampado nesta segunda pode ser alterado por composições entre as chapas até o dia 15, quando expira o prazo para o registro das candidaturas na Justiça Eleitoral. Contudo, não se espera grandes novidades. A última, comemorada inclusive, foi o convite feito pelo ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB-SP), e já aceito pela senadora Ana Amélia (PP-RS) para vice.
A crença de que a senadora vai agregar votos da região Sul, do agronegócio e do candidato Jair Bolsonaro (PSL-RJ) explica o alívio e o bom humor do mercado nos últimos dias. Contudo, o fim de semana sequer havia terminado e tucanos por vocação ou ideologia - e mais economistas que políticos - admitiam que a chapa Alckmin-Ana Amélia poderia pautar a reorganização de um subjetivo mapa eleitoral, com um racha Norte-Sul em substituição ao 'nós e eles' ou ao 'ricos e pobres' - designações de situação e oposição cultivadas incansavelmente por Lula. Mas, a despeito desse risco, que pode fragilizar Alckmin- Ana Amélia no Norte e Nordeste, "o candidato tucano terá a melhor capacidade de coordenação e mais possibilidade que qualquer outro postulante ao Palácio do Planalto de aprovar projetos importantes no Congresso, especialmente a reforma da Previdência", avalia alto executivo de banco estrangeiro.
Esse profissional alerta há semanas que o mercado vinha atribuindo probabilidade próxima de zero ao crescimento de Alckmin nas pesquisas de intenção de voto. Pesquisa Ibope feita apenas no Estado de São Paulo, divulgada na sexta-feira, mostrou Alckmin em alta de 4 pontos e 19% das intenções de voto em empate técnico com Jair Bolsonaro com 16%, no cenário em que Lula não é mencionado. Na sondagem imediatamente anterior, ambos pontuavam 15%.
A coalizão de Alckmin, além das legendas de centro, tem o apoio do DEM, partido do presidente da Câmara Rodrigo Maia e do MDB, para quem Alckmin provavelmente oferecerá o comando do Senado. Confirmado esse cenário, Alckmin seria o candidato com maior capacidade de coordenação e possibilidade de aprovar projetos importantes em seu governo, inclusive a reforma da Previdência. As pesquisas a serem divulgadas no início de setembro serão particularmente relevantes para indicar quem poderá estar no 2º turno de votação.
O executivo do banco estrangeiro lembra que Jair Bolsonaro ainda é um nome forte da direita, com acesso profundo à população via mídias sociais, com um benefício indireto (e possível vantagem) que é acessar o maior número de leitores indecisos. Considerando vários cidadãos não estão realmente envolvidos com as eleições, eles poderão ser mais facilmente influenciadas por um discurso populista de direita.
Nenhum comentário:
Postar um comentário