segunda-feira, 6 de agosto de 2018

Debates cristalizam preferências e ajudam na escolha de indecisos

No primeiro turno, os eleitores que assistem aos debates tendem a mudar menos de voto do que os demais

Lucio Rennó, André Bello, Ryan Lloyd | Folha de S. Paulo

Debates entre candidatos são momentos especiais nas campanhas eleitorais. São oportunidades para exibir as habilidades e capacidades individuais dos concorrentes em ambientes pouco controlados.

Diferentemente da propaganda eleitoral, apresentam uma situação de risco e de exposição ao confronto, importante para fortalecer a narrativa da campanha em momentos de tensão e em face do imprevisto.

Por isso, não há dúvida de que, para candidatos e suas equipes, os debates são eventos centrais, que exigem significativo investimento de planejamento e recursos.

Contudo, qual é o impacto desses programas nas intenções de voto em eleições presidenciais? Debates mudam opinião, convertem eleitores ou solidificam e ativam a base de apoio? É uma pregação para os convertidos ou uma forma de persuadir novos apoiadores?

Essas perguntas são centrais teoricamente para o estudo da política, mas também de interesse prático. Suas respostas ajudam candidaturas a modularem suas expectativas.

Para mensurar seu efeito, precisamos saber o perfil do eleitor que assiste aos debates, se as pessoas repercutem-nos posteriormente e eles interferem na probabilidade de o eleitor mudar sua intenção de voto. Sabemos pouco sobre tema, e captar seu impacto é um desafio metodológico.

O Estudo de Painel Eleitoral Brasileiro (EPEB) de 2014, pesquisa de opinião pública que entrevista amostra probabilística nacional de eleitores em sete ondas subsequentes, foi desenhado, em parte, para captar o efeito de curto prazo dos debates.

Esse é um dos únicos bancos de dados no Brasil que permite avaliar a mudança de preferências e intenções de voto em nível individual, entrevistando os mesmos eleitores em momentos distintos da campanha.

As ondas ocorreram após a realização de debates específicos, o que permite analisar o posicionamento dos eleitores antes e depois de cada um.

Os resultados do estudo demonstram que 14% dos eleitores declararam ter assistido ao debate da TV Band, 15% ao da Record e 39% ao da Globo no primeiro turno.

Além disso, 29% declararam ver algum debate no segundo turno. Os eleitores que mais assistem a debates são homens, brancos, mais idosos, com maior escolaridade, interessados em política e com preferências políticas mais cristalizadas.

Ou seja, é um eleitorado distinto da média da população brasileira. Portanto, o efeito direto dos debates é circunscrito a um eleitor que tem baixa probabilidade de oscilar de intenção de voto.

De fato, nosso estudo mostra que, no primeiro turno, os eleitores que assistem aos debates tendem a mudar menos de voto do que os demais, indicando que esses programas servem principalmente para solidificar posições já tomadas pelo eleitorado.

Debates consolidam preferência: é uma pregação para os convertidos. Não arrebanham novos fiéis.

No segundo turno da eleição, por sua vez, não há mudança de voto entre aqueles que já têm candidatos, mas há um processo de convencimento de indecisos para que migrem a uma candidatura ou outra. Nesse momento, os debates têm mais chance de convencer novos aliados.

Contudo, os indecisos que assistem aos debates são em número bem menor do que os que já têm preferência consolidada.

Já os efeitos indiretos são mínimos. As pessoas que ouvem falar algo sobre os debates, não tendo assistido a eles, tampouco tendem a mudar de intenção de voto no período eleitoral.

Assim, debates ajudam a moldar preferências eleitorais e a construir a retórica da candidatura. Um debate específico não decidirá uma campanha, mas um erro ou um acerto pode mobilizar ou desmobilizar apoiadores e gerar manchetes futuras positivas ou negativas, com consequência para o resultado final do pleito.

Por último, também cabe pensar se o formato desses programas, invariavelmente longos nas eleições brasileiras, dada a quantidade de candidatos, não é prejudicial para seu impacto.

Como momentos privilegiados da discussão democrática, é importante analisar se outros formatos não gerariam maior repercussão.
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Lucio Rennó é professor de ciência política na Universidade de Brasília André Bello é doutorando em ciência política na Universidade de Brasília Ryan Lloyd é pós-doutorando no Instituto de Relações Internacionais da USP

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