- Folha de S. Paulo
Tarefa de escolher deputados é bem mais complexa do que a de selecionar um presidente
Até acho que há uma chance razoável de o próximo presidente da República ser alguém suficientemente responsável, que não empurrará o Brasil para mais perto do abismo. Sou menos otimista em relação ao próximo Legislativo.
Se já é difícil para o eleitor selecionar um dentre os cinco ou seis candidatos presidenciais mais competitivos, que recebem ampla cobertura da mídia e têm algumas de suas propostas discutidas até em botequins, a tarefa de escolher deputados é bem mais complexa.
Para início de conversa, a oferta é assustadoramente maior. Cada partido ou coligação pode registrar um número de postulantes que chega a até 150% do total de vagas a preencher. No caso de São Paulo, cuja bancada federal tem 70 deputados, cada uma das 35 legendas poderia em princípio lançar 105 candidatos, perfazendo um total 3.675 concorrentes.
Até pelo grande número, é mínimo o espaço que os meios de comunicação dedicam à maioria deles. Mesmo no horário eleitoral gratuito, a massa de candidatos não dispõe de muito mais tempo do que alguns segundos por semana. Escapar ao anonimato não é trivial.
O resultado é que o eleitor, mesmo que estivesse empenhado em votar certo (e a literatura da ciência política assegura que a maioria não está), teria poucas ferramentas para fazê-lo. Na prática, agrava-se a tendência de o cidadão definir seu sufrágio baseado em linhas que consideraríamos pouco consistentes, como conhecimento prévio, vínculos emocionais, palpites de amigos, recomendações de pastores, frases de efeito que o candidato possa ter dito para fazer-se notar.
Nada disso faz prognosticar uma Câmara muito diferente da atual, apesar do propalado desejo de mudança radical deflagrado pela Lava Jato. Ao contrário até, as regras de distribuição de verbas do fundo público para as campanhas deixaram tudo na mão das burocracias partidárias, que tendem a favorecer o statu quo.
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