Tucano equaciona palanque duplo e prepara ação 'porta a porta' para frear avanço de Bolsonaro
Thais Bilenky / Daniel Carvalho | Folha de S. Paulo
TAUBATÉ E BRASÍLIA - Governador de São Paulo por quatro mandatos, o presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB) deu início a uma “operação porta a porta” para recuperar o eleitorado cativo de seu estado, hoje dividido entre o tucano e Jair Bolsonaro (PSL).
Em evento ao lado do candidato a governador João Doria (PSDB) na sexta-feira (10) Alckmin fez sua primeira ação de campanha no interior paulista, depois de meses ausente publicamente do estado.
O tucano tentava evitar complicar ainda mais a divisão em sua base com as candidaturas adversárias de Doria e a do governador Márcio França (PSB), vice que o sucedeu e disputa a reeleição.
Em Taubaté, a 20 quilômetros de Pindamonhangaba, sua cidade natal, Alckmin foi recebido como prata da casa. Passou quase uma hora tirando selfies, abraçando simpatizantes e ouvindo incentivos à sua candidatura.
Lá deixou claro que a divisão do palanque duplo foi equacionada. “Vamos ter partidos que que apoiam o João Doria e vão fazer campanha para mim, e partidos que apoiam o Márcio França, mas também nos apoiam, estão na nossa coligação”, afirmou.
Segundo aliados, o PSB liberou os estados. Assim, França e partidos coligados como o PTB farão campanha para o presidenciável tucano.
Resolvida essa questão, o foco da campanha agora é recuperar o terreno perdido —crucial para alavancar o desempenho de Alckmin no país.
Maior colégio eleitoral do Brasil, com 33 milhões de pessoas aptas a votar, um terço delas na capital, o estado de São Paulo responde por 22,5% do total de eleitores do país (147 milhões).
Como relatou o Painel no domingo (12), para barrar a atração que Bolsonaro exerce sobre setores paulistas, a campanha tucana vai reforçar a ofensiva sobre o eleitorado conservador e ligado ao agronegócio do interior.
Segundo Doria, a escolha da população ainda não está cristalizada. “Não tenho intenção de recuperar votos. Vamos conquistá-los”, disse.
Para organizar a ofensiva, foi montado um comitê de prefeitos, capitaneado por Paulo Alexandre Barbosa (PSDB), de Santos.
O espírito da coisa foi definido por Alckmin aos aliados. Ele contou que, em 1989, uma campanha de casa em casa levou à vitória de Mário Covas (PSDB) em Pindamonhangaba na eleição presidencial, em contraste com a quarta posição em que terminou no país.
“Temos de olhar no olho do eleitor e dizer que temos as melhores soluções para o nosso país”, discursou o prefeito de Taubaté, Ortiz Junior (PSDB), no ato de sexta. “Temos de lutar pelo voto todos os dias, com papelzinho na mão, no comércio, dentro da casa da gente, no trabalho. A gente tem que insistir.”
O diagnóstico feito pelo grupo é que os prefeitos estão desmotivados na defesa de Alckmin. Foram instruídos a realçar as realizações do tucano no estado e para isso são rememorados da folha de serviços prestados. O PSDB comanda o Palácio dos Bandeirantes há 24 anos.
Auxiliares de Alckmin apostam na habilidade de prefeitos para fazer o corpo a corpo com a população, para acessar meios de comunicação locais e para mobilizar internautas nas redes sociais.
Três reuniões com prefeitos tucanos já aconteceram. A última foi um jantar, há 15 dias, com cerca de 40 governantes de cidades paulistas. O presidenciável chegou ao encontro somente ao final.
Na reunião, o marqueteiro da campanha tucana, Lula Guimarães, aproveitou para mostrar um pouco do trabalho que está fazendo. A campanha nas ruas começa na quinta-feira (16). No rádio e na TV, em 31 de agosto.
“Está me causando um pouquinho de estranheza um certo desânimo hoje aqui. Está todo mundo desanimado?”, perguntou Ortiz no palco do evento em Taubaté. A plateia reagiu timidamente. “Está desanimado, sim. Só ouvi um não. Do lado de lá, ninguém vibrou”, cobrou.
Aliados notam que a intenção de voto em Alckmin em São Paulo é menor que a aprovação de seu governo. Atribuem o descompasso à falta de conhecimento da população da candidatura do tucano. Para resolver o problema, querem aposentar o título de governador com que Alckmin ainda é tratado.
“É importante distribuir panfleto, balançar bandeira, mas é muito importante convencer as pessoas de que esse time aqui liderado pelo Geraldo e o João é o que tem condição de colocar o Brasil no rumo certo”, disse o deputado Eduardo Cury (PSDB-SP).
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