- O Estado de S.Paulo
Nordeste garantiu Fernando Haddad na disputa contra Jair Bolsonaro pelo Planalto
O Nordeste que garantiu a vitória a Dilma Rousseff em 2014 também assegurou a ocorrência de segundo turno entre Jair Bolsonaro e Fernando Haddad a despeito da avassaladora onda de votos do candidato do PSL em São Paulo, no Sul e no Centro-Oeste.
Durante quase toda a campanha, a distinção de gêneros nos votos foi a tônica das análises, mas o resultado mostra que segue sendo a desigualdade regional o grande motor eleitoral no Brasil.
O desgaste petista pós-impeachment, na esteira da Lava Jato e da prisão de seu principal líder, impulsionou a ascensão meteórica de Bolsonaro, que soube aproveitar a onda e incrementá-la com um discurso conservador que atraiu um eleitorado até então alojado no PSDB e um uso arrojado das redes sociais para se transformar num fenômeno novo na política nacional, antípoda ao lulismo.
O deputado do PSL bateu na trave de vencer já neste domingo, mas entra no segundo turno em condições em tudo vantajosas em relação a Haddad: viu aliados seus se elegerem ao Senado, assegurou uma bancada respeitável na Câmara (seja de seu próprio partido seja dos políticos que devem se aproximar dele em caso de vitória) e terá a seu lado aliados importantes em disputas estaduais, como São Paulo e Rio de Janeiro.
Preso, Lula conseguiu colocar seu “poste” em uma nova final, mas perdeu a aura de encantador de serpentes: o PT sofreu uma derrota acachapante no País, cujo símbolo maior é a surra em Minas Gerais, com Dilma Rousseff fora do Senado e Fernando Pimentel alijado do segundo turno.
Em 2014, Minas foi fundamental para Dilma, além do Nordeste. Agora, o Estado-síntese da federação repete, de novo, o quadro nacional: é fortemente bolsonarista, mas por pouco não garantiu a vitória antecipada do capitão.
Nas três semanas até o segundo turno, caberá a ele reforçar suas posições de Minas para cima. Parece ter mais ferramentas para isso que Haddad, cuja campanha deverá ser toda concentrada em apontar o adversário como uma ameaça à democracia – algo que diante da votação maciça parece ser um discurso incapaz de sensibilizar o eleitorado.
Como faltou pouco para que vencesse no primeiro turno, Bolsonaro parece ter uma tarefa bem mais tranquila: tem a seu favor uma migração natural de votos de candidatos como João Amoêdo e outros e deve pescar a metade dos (poucos) eleitores de Geraldo Alckmin.
Numa eleição que virou plebiscito e transformou quase todos os candidatos em nanicos, Ciro Gomes é o único fora os finalistas a terminar com estatura política. Deverá apoiar Haddad, mas resta saber se a esquerda terá peso para se contrapor à onda de centro-direita, a maior desde a redemocratização.
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