- Folha de S. Paulo
Enganou-se quem achava que a Lava Jato já havia produzido todo seu efeito eleitoral no pleito de 2016 e que marchava lentamente para a esterilização. A bomba de nêutrons da operação sobre a vida partidária explodiria apenas neste domingo, 7 de outubro de 2018.
Varreu quase tudo o que encontrou pelo caminho, em especial nas regiões mais desenvolvidas do Brasil.
Candidatos das legendas mais estabelecidas, em torno das quais organizou-se o jogo do poder ao longo dos últimos 30 anos, foram atropelados por postulantes excêntricos.
O PSDB foi arruinado. O PT, bastante avariado nas localidades mais prósperas, ganhou o direito de disputar uma batalha de vida ou morte pelo Palácio do Planalto, em condições duríssimas, no próximo dia 28.
No Congresso, um bloco de novos entrantes, arrastados pela voragem conservadora de Jair Bolsonaro, insinua-se como um dos maiores da legislatura que se inicia em fevereiro. É copiosa a lista de velhas lideranças partidárias que perderam o assento.
Um eleitorado mais numeroso e, sobretudo, diferente daquele que debutava nas eleições diretas presidenciais há quase três décadas foi o responsável por essa mudança de era na política partidária brasileira.
Para cada 100 eleitores com ensino médio ou superior, há menos de 50 com escolarização inferior —essa relação era de 100 para 170 em 1994. Hoje o contingente dos mais escolarizados supera o dos com menor formação por 50 milhões de eleitores.
Passou o tempo em que os anseios do eleitor mediano se restringiam a necessidades básicas da subsistência. A decência na vida pública, a opressão dos burocratismos cotidianos, a ineficiência dos serviços do governo e a insegurança nas cidades foram incorporadas ao acervo de preocupações que definem o voto.
O cinismo, o mais do mesmo e a falta de autocrítica e de renovação nos partidos outrora hegemônicos saem castigados destas eleições. O que foi posto no lugar, entretanto, não é necessariamente melhor.
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