- Folha de S. Paulo
Mesmo ainda sem licenciamento eleitoral, candidato decide nomes e monta coalizão na Câmara
Jair Bolsonaro acerta nomes para seu governo e sua coalizão no Congresso uma semana antes do fim da eleição. As conversas tornaram-se mais decisivas depois do primeiro turno. Agora, tudo se passa como se tivesse começado o governo de transição.
Na praça do mercado, é motivo para manter a aposta em alta dos preços dos ativos financeiros. Parece que essa arquitetura, ainda à espera de licenciamento eleitoral, garantiria a execução de planos liberais ainda incógnitos, na sequência certa. Essas são as fichas na mesa, que podem rolar pelo chão em caso de tumulto maior na finança americana, por exemplo.
Aliados do candidato do PSL discutem com o governo de Michel Temernomeações para o segundo escalão, entendido aqui como cargos abaixo da função de ministro: direção de estatais, agências do governo, agências reguladoras.
Há conversas sobre quem poderia ficar, quais cargos devem ficar abertos para evitar constrangimentos (demissões) logo que um eventual governo Bolsonaro assuma, sugestões de quadros, pedidos de emprego de parte de gente do governo que sai.
Há progresso em uma conversa que parece mais difícil, o acordo entre governo e partidos a respeito da presidência da Câmara. O núcleo do centrão negocia os termos de sua aliança com Bolsonaro. Não é segredo, em parte acontece à vista de todo o mundo que lê jornais.
Pelo andar da carruagem, Bolsonaro levaria, logo de início, metade da Câmara. A fim de obter maioria bastante para mudanças na Constituição, seria necessário agregar ainda pelo menos duas bancadas de uns 30 deputados, um PSDB, um MDB ou um restão de nanicos (que em parte vão aderir ao PSL de Bolsonaro). É maioria apertada, mas a coisa se move rápido, guerra-relâmpago.
O acerto pode definir o destino de reformas econômicas profundas assim como mudanças sérias na segurança pública. No dizer de um aliado importante na Câmara, um eventual governo Bolsonaro tende a atacar muito rápido em duas frentes de impacto: mexidas na economia e a implementação quase imediata do que chama de programa de segurança pública.
Rodrigo Maia (DEM) renegocia sua reeleição para o comando da Câmara em troca de boa vontade na tramitação de projetos de interesse da bancada da bala (mudanças nas leis de armas e de homicídios praticados por policiais em serviço), bancada com fervorosos adeptos demistas.
Quanto ao programa econômico, é similar ao do DEM ou convergente, disse Maia. É verdade. A convergência vai além. Bolsonaristas dizem que, no poder, levarão colegas do DEM que caíram pelo caminho, que não foram reeleitos.
Como revelou esta Folha, a fim de azeitar a transição econômica, um eventual governo Bolsonaro pode levar quadros centrais do Ministério da Fazenda de Michel Temer, como Mansueto Almeida, que tem de cabeça o mapa da ruína fiscal, e Marcos Mendes, capaz de dar ritmo e sequência político-econômica adequada à implementação de reformas.
Essa é a intenção dos economista-chefe de Bolsonaro, Paulo Guedes. Mas nada disso está fechado com o próprio candidato, diz gente da ala parlamentar da campanha do PSL.
Não foi possível descobrir se se trata de informação ou da disputa de vaidades sobre o conhecimento do que viria a ser um governo Bolsonaro.
Como se sabe, políticos bolsonaristas não têm muita simpatia por certas ideias dos seus colegas economistas, como reforma da Previdência, abertura comercial e mesmo certas privatizações.
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