quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Opinião do dia: Luiz Werneck Vianna

IHU On-Line – Qual é a sua avaliação geral do resultado das eleições? Que reflexões o senhor tem feito a partir do resultado das eleições?

Luiz Werneck Vianna – Eu não seria verdadeiro se dissesse que não senti surpresa com determinados resultados. O resultado de Minas Gerais me surpreendeu. No Rio de Janeiro, igualmente. Em São Paulo as coisas se comportaram de forma previsível, assim como no Nordeste. Agora, a onda Bolsonaro que tomou conta do país surpreendeu a mim e penso que surpreendeu a todos. Foi um processo que foi se maturando embaixo da rejeição ao PT, que não soube compreender a sua situação e radicalizou seu posicionamento num momento em que tinha de procurar forças que pudessem estabilizar a sua votação. Foi perdendo o Centro, o que não fez nas eleições anteriores, inclusive na de Dilma, quando a escolha do vice-presidente foi um candidato classicamente do Centro, Michel Temer. Aos poucos, a própria administração do segundo governo Dilma foi se distanciando, dramaticamente eu diria, do Centro político. Ora, este país vem comprovando há décadas que o Centro político é o capital para a estabilidade e a governabilidade no país. O abandono do Centro e mais o avanço que procuradores e juízes exerceram sobre o sistema político feriram preferencialmente as forças que tradicionalmente ocupavam o Centro político. Isso tudo tornou viável essa onda, esse tsunami que invadiu o país.

No Rio de Janeiro, o candidato que está na frente nas pesquisas e que chegou ao segundo turno em posição favorecida não tem registro político na história do país. O que se sabe é que ele foi um fuzileiro naval que abandonou a carreira, depois um juiz concursado, que também abandonou a corporação e que ingressou, por uma inspiração do destino, numa trajetória para a qual não parecia minimamente preparado, mas está aí, liderando as pesquisas e parece que tem possibilidade de vencer. A política tradicional do Rio de Janeiro foi arrasada; está na cadeia. Aliás, o grande nome do PT está na cadeia.

Um elemento de erro, de equívoco e de falta de interpretação lúcida do país propiciou isso. Agora todos choram o leite derramado. Corre-se atrás da recuperação do Centro político, mas o Centro político não é ioiô. O Centro foi o grande responsável pela modernização burguesa do país. Como se explica o governo Juscelino sem o Centro político, a construção de Brasília, o programa de metas, sem o Centro político? Para ir um pouco mais longe, o desentendimento a respeito da nossa trajetória, da nossa história, dos nossos valores, chegou a um ponto agônico. Ninguém mais pode reconhecer na nossa história êxitos e sucessos. Quando se falava em República, era para denegri-la; quando se falava do processo da abolição, que foi uma luta democrática muito vigorosa, era para denegri-la; quando se falava da imposição étnica do país, o que é um verdadeiro milagre a convivência entre diferentes, como tem ocorrido e tem se aprofundado entre nós, isso não encontrava defensores. Gilberto Freyre foi enterrado para não ser mais ouvido; suas lições foram jogadas no porão da história.

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Luiz Werneck Vianna, sociólogo, PUC-Rio. Entrevista: ‘Depois do “teatro de sombras”, Brasil precisará se reinventar e sair do caminho da prancheta.’, Blog Democracia Política e novo Reformismo, 23/10/2018.

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