Presidenciável atrai simpatias nas Forças, que têm sabido manter a isenção
Em mais de três décadas desde o restabelecimento da democracia, não se viu envolvimento dos militares na vida partidária do país. Entretanto as peculiaridades do momento atual põem as Forças Armadas em evidência, ainda que involuntária, no cenário político.
O avanço da candidatura do capitão reformado Jair Bolsonaro (PSL), hoje franco favorito no pleito, incentivou a militância de oficiais que não faz muito deixaram a ativa. Alguns colaboram no programa de governo do presidenciável; outros lançaram-se à disputa de cargos eletivos.
A camaradagem de caserna e a comunhão de princípios e mentalidades levaram, pelo que se pode observar, a simpatias de comandantes pela campanha na qual seus ex-colegas se engajaram.
Sabe-se que Bolsonaro sempre despertou alguma desconfiança na cúpula das Forças. Hoje se apura, porém, que há satisfação, especialmente no Exército, com o indicativo de prestígio da instituição de algum modo associado às intenções de voto no postulante do PSL.
Tais afinidades não se traduzem, destaque-se, em declarações públicas, que seriam inadmissíveis. Salvo alguns deslizes pontuais, os militares têm sabido manter sua isenção diante das não poucas tensões políticas nacionais dos últimos anos —e a despeito de terem assumido um protagonismo em muitos casos indesejado no período.
Nos protestos de rua que eclodiram em 2013, bem como em atos antipetistas de 2015 e 2016, houve quem levantasse faixas por um novo regime autoritário. Tais grupos foram adequadamente chamados de “tresloucados” pelo comandante do Exército, Eduardo Villas Bôas.
O mesmo general, infelizmente, aventurou-se em manifestação descabida em abril deste ano, quando o Supremo Tribunal Federal preparava-se para julgar habeas corpus impetrado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Na ocasião, Villas Bôas declarou o repúdio do Exército à impunidade, o que não inevitavelmente seria lido como aversão a uma decisão que evitasse o encarceramento do líder petista, condenado por corrupção e lavagem de dinheiro.
Também a degradação da segurança pública nacional contribuiu para a maior visibilidade recente das Forças Armadas, chamadas com frequência —e de modo equivocado e imprudente— a assumir atividades policiais.
Por fim, com a montagem da equipe de auxiliares e consultores de Jair Bolsonaro, generais da reserva dão a conhecer, ao menos em parte, o pensamento do meio sobre problemas brasileiros.
Conforme noticiou esta Folha, lideranças militares temem que o desgaste de um eventual governo do capitão reformado contamine a imagem da instituição. Tal risco será menor quanto mais inequívoca se mostrar a permanência do apartidarismo e da disciplina.
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