Prisão de governador aumenta a responsabilidade dos que assumem em janeiro
A imagem da política praticada no Rio de Janeiro, principalmente depois da fusão da Guanabara com o Estado do Rio, nunca foi boa. E degradou-se bastante. Um balanço do destino de homens públicos, do Executivo e Legislativo doestado, de 1998, dez anos após promulgada a Constituição que institucionalizou a redemocratização, até a última eleição geral, em outubro, não deixa dúvidas.
Todos os governadores eleitos no período, com exceção de Benedita da Silva, estão ou foram presos. O último é Luiz Fernando Pezão, que teve prisão preventiva decretada ontem pelo Superior Tribunal de Justiça, tornando-se o primeiro governador do estado a ser detido no exercício do cargo.
No Legislativo (Alerj), todos os presidentes da Casa, entre 1995 e 2017, ouviram voz de prisão: Sérgio Cabral, também ex-governador, Jorge Picciani e Paulo Melo. Ocorreu o mesmo com dez dos 70 deputados estaduais. No Tribunal de Contas do Estado, órgão auxiliar da Assembleia, cinco dos seis conselheiros foram pelo mesmo caminho.
Durante muito tempo havia a dúvida de, se o ex-governador Sérgio Cabral e seu grupo, composto, entre outros, pela cúpula da Alerj, tinham sido apanhados por investigações anticorrupção, por que o vice Luiz Fernando Pezão passava ao largo de qualquer dissabor. E ainda mais tendo sido secretário de Obras de Cabral, cargo estratégico quando se trata de saquear os cofres públicos.
A pergunta, para os investigadores de Pezão, começou a ser respondida quando Carlos Miranda, conhecido como “homem da mala” de Sérgio Cabral, fez acordo de delação premiada com o Ministério Público, na ramificação fluminense da Lava-Jato, e disse que o vice de Cabral participaria do esquema.
A Polícia Federal supõe que Pezão teria movimentado dinheiro vivo. O delegado Alexandre Bessa, da PF, disse que o fato de a conta bancária não registrar movimentos provocou estranheza à PF. Como ela ainda não conseguiu rastrear o dinheiro, foi pedida prisão preventiva, sem prazo para ser suspensa. Entende, ainda, o superintendente regional da PF, Ricardo Saad, que a medida foi necessária para cessar o crime e impedira criação de dificuldades às investigações.
Resta de tudo isso a constatação de que apolítica fluminense dominante no período da redemocratização virou ruínas. O lado trágico é que o Rio se debate em grave crise fiscal sem que a classe política fluminense, debilitada e conivente com a corrupção, pudesse ou quisesse ajustaras contas do estado, subjugada por grupos de pressão que se beneficiam do desregramento financeiro.
Mas, em contrapartida, surge agora como imperativo a necessidade da aplicação de práticas éticas e legais pelos governantes que assumem em janeiro. Não se concebe que acultura criminosa que se consolidou em especial no Rio de Janeiro contamine os novos donos do poder a partir do ano que vem. As instituições e a sociedade acompanham tudo com atenção.
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