- O Globo
A Lava-Jato pôs um ponto final no ciclo de poder e corrupção do PMDB fluminense. Neste período, o estado quebrou e quatro governadores foram para a cadeia
A prisão de Luiz Fernando Pezão não é uma surpresa para quem acompanha a Lava-Jato no Rio de Janeiro. O governador já havia sido acusado de receber propina por diversos delatores do esquema que saqueou o estado. A novidade está no fato de ele ir para a cadeia antes do fim do mandato.
Pezão esperava ter mais um mês de tranquilidade até passar o cargo ao governador eleito Wilson Witzel. Até janeiro, contava com a proteção do foro privilegiado no Superior Tribunal de Justiça.
O sucessor de Sérgio Cabral tentava escapar do mesmo destino do padrinho político, preso no fim de 2016. A blindagem resistiu por dois anos e 12 dias. Neste período, a crise do estado se agravou e ele conquistou o título de governador mais impopular do Brasil.
Com os cofres raspados, o Rio passou a atrasar salários de servidores e aposentados. A falta de verbas fechou leitos de hospitais e deixou carros da polícia sem gasolina. A Uerj, umas das principais universidades públicas do país, ficou quase seis meses parada.
Pezão foi esvaziado de vez no início deste ano, quando o governo federal decretou a intervenção na segurança pública. Desde então, contava os dias para deixar o poder. Seu principal desafio era continuar solto.
O governador insistia que a corrupção não foi a causado colapso financeiro do Rio. Atribuía todos os problemas à quedada arrecadação e à crise da Petrobras. Em entrevistas, ele se dizia amargurado com o que chamava de “vida cruel” dos políticos. Também demonstrava solidariedade com os amigos presos.
No mês passado, Pezão disse ao jornal “O Estado de S. Paulo” que queria abraçar Cabral na cadeia. Não vai realizar o desejo agora porque foi levado para o presídio da PM em Niterói, a 50 quilômetros de Bangu.
A Operação Boca de Lobo põe um ponto final no ciclo de poder do PMDB fluminense. Nos últimos tempos, a população assistiu ao ocaso dos personagens mais poderosos deste período. Foram em cana quatro governadores, três presidentes da Assembleia Legislativa e um procurador-geral. Atualizando a frase famosa do Barão de Itararé, o Estado do Rio é o estado a que chegamos.
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