O governo de Jair Bolsonaro começará sob o signo da esperança. Dois em cada três brasileiros, segundo pesquisa da CNI-Ibope, acreditam que o novo presidente está no rumo certo para realizar uma boa administração e o fato de que apenas um terço dos entrevistados digam conhecer o que ele pretende fazer indica que mesmo a maioria que está no escuro sobre seu programa lhe deseja boa sorte. Só 14% esperam coisas ruins vindas do Planalto quando Bolsonaro o ocupar.
Há boas condições, em tese, de o novo presidente corresponder às expectativas, se o alvo for a economia. Quanto à segurança pública, educação e saúde, o máximo que pode conseguir são progressos graduais, desde que persiga com determinação, políticas corretas.
A decisão do Comitê de Política Monetária na última reunião do ano diz muito sobre as chances de se obter resultados positivos nos próximos anos. Se tudo continuar como está, segundo o Banco Central, não será necessário elevar a taxa básica de juros por um período razoável, ou seja, até o segundo semestre do próximo ano. Caso o novo governo dê sinais de que acertou o tom e buscou com empenho as reformas fiscais, que debelarão a desconfiança a respeito da insolvência do Estado, os juros, para alguns analistas, não têm motivos para subir até 2020, pelo menos.
É certo que a calmaria da inflação se deve ao ritmo modorrento de recuperação da economia, o menor das retomadas após recessões da história recente. Diferentemente dos ciclos anteriores, porém, uma baixa taxa de juros na largada da recuperação é uma vantagem apreciável. Ainda que a taxa de inadimplência não seja exatamente confortável, ela está em queda e grande parte dos consumidores que assumiram mais compromissos do que aqueles que conseguiriam pagar estão hoje com seu balanço em melhores condições do que nos últimos dois anos. Poderão assumir novas dívidas a um juro certamente mais baixo do que antes, com uma oferta que deixou já no ano passado de ser contraída.
A expectativa para o expansão da economia é bem melhor do que os 1,3% estimados para 2018, quase o dobro, na verdade, como aponta o boletim Focus do Banco Central. Isto significa melhoria razoável no nível de emprego e na renda. E é pelo consumo das famílias que se espera um impulso do PIB, de acordo com a revisão feita pelo Banco Central em seu mais recente relatório de inflação, de setembro. A estimativa é que os gastos das famílias deem um salto de 1,8% para 2,4%, o que animará especialmente o setor de serviços, que vem exibindo trajetória claudicante no ano e que compõe dois terços do PIB pelo lado da oferta. O setor avançará de 1,3% para 2% no próximo ano. Uma nova safra recorde e um avanço ainda que modesto da indústria desenham um quadro mais promissor.
A maior incógnita é o comportamento, sob todos os aspectos decisivo, dos investimentos, cuja projeção é de avanço de 5,5% neste ano e de 4,6% no próximo. A estimativa é cautelosa e pode se revelar tímida, dependendo de como o governo de Jair Bolsonaro agir em relação ao principal entrave ao crescimento, a questão fiscal. Se encaminhar bem e com senso de urgência a reforma previdenciária, os índices de confiança subirão, boa parte das incertezas se dissipará e estará aberto o caminho para que os investimentos retornem com alguma força. Desatar os nós regulatórios que amarram os gastos na infraestrutura propiciaria um papel mais relevante para a parceria privada e para a melhoria da produtividade da economia.
Tempestades que se acumulam no cenário internacional não devem necessariamente desbaratar um ambiente positivo. Ainda que o dólar possa dar saltos, há reservas mais que suficientes e um sistema de câmbio flexível para acomodar choques de moderada intensidade. Os fluxos de investimentos externos resistiram até mesmo a uma recessão muito intensa e não há motivos para que refluam agora, quando há perspectiva de crescimento. Não se esperam surpresas negativas na balança comercial.
Com tudo a favor, a começar por sua grande popularidade, o presidente eleito Jair Bolsonaro precisará de um manejo sensível da política econômica, habilidade na coordenação política e diplomacia consistente nas relações do país com o mundo. Se não dispersar esforços e atacar de frente os constrangimentos fiscais, o novo governo se beneficiará de um clima favorável aos negócios e ao crescimento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário