Sem unidade, agenda e experiência, PSL terá de competir com siglas conhecedoras do Congresso
A facilidade para a proliferação de partidos políticos no Brasil há muito tomou proporções de caricatura. Nada existe de parecido nos principais países com um Legislativo nacional onde hoje atuam 25 siglas —e são 30 entre os deputados que assumirão em 2019.
Muito mais complexa, entretanto, tem se mostrado a tarefa de consolidar legendas com um mínimo de organização interna e consistência programática, capazes tanto de sustentar um governo quanto de seguir relevantes na oposição.
Desde o restabelecimento da democracia, os casos mais bem-sucedidos foram os de PT e PSDB, ambos com referências na social-democracia —para a qual o primeiro rumou partindo da esquerda e da qual o segundo partiu em direção a um reformismo mais liberal.
Depois de protagonizar a disputa presidencial por duas décadas, os dois sobrevivem com vastas escoriações. Os petistas conseguiram a maior bancada eleita para a Câmara, com 56 nomes, mas não se sabe como e se vão superar o ocaso de seu único líder inconteste.
Os tucanos preservaram o comando do estado mais rico do país, que detêm desde 1995, mas o governador eleito está menos associado aos tradicionais expoentes da sigla do que à guinada direitista de parcelas expressivas do eleitorado e do mundo político nacional.
Essa onda, aliás, impulsionou o que talvez venha a ser a maior novidade do quadro partidário pós-ditadura: o PSL de Jair Bolsonaro, uma agremiação de discurso abertamente conservador que elegeu 52 deputados, ante apenas 1 quatro anos atrás, e tende a abrigar mais a partir de 2019.
Nenhuma outra legenda existente no país experimentou avanço tão vertiginoso. Por outro lado, a ascensão prematura e surpreendente evidencia agora a fragilidade e a desorientação do grupo.
No episódio mais recente, o presidente eleito determinou aos aliados que interrompam a troca de mensagens coletivas em redes sociais. Há poucos dias, essa prática resultou em bate-boca entre seu filho, Eduardo Bolsonaro, e Joice Hasselmann, ambos eleitos por São Paulo e interessados em ocupar a liderança dos correligionários.
Para além das rixas miúdas, o PSL enfrentará o desafio de articularuma bancada heterogênea que abarca policiais, membros das Forças Armadas, ativistas da nova direita e somente três deputados reeleitos —30 dos que conquistaram cadeiras neste ano disputavam eleições pela primeira vez.
Mesmo que atraia mais nomes, o partido dificilmente terá muito mais que um décimo dos 513 deputados. Carente de experiência e agenda, precisará buscar alianças e ao mesmo tempo competir por influência com siglas amorfas, mas conhecedoras dos meandros do Congresso e do governismo.
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