Vandson Lima e Fabio Murakawa | Valor Econômico
BRASÍLIA - Maior partido do Senado, o MDB reúne hoje a sua bancada para começar a decidir quem será seu candidato à presidência da Casa. Com uma bancada dividida, promessas e traições à vista, existe a possibilidade de candidatura à revelia. Os dois postulantes - Renan Calheiros (AL) e Simone Tebet (MS) - terão estratégias diferentes para tentar chegar ao comando do poder Legislativo.
Senadora em primeiro mandato, Simone dirá aos pares que tem compromissos de apoio de PSL e PSDB, firmados respectivamente por Major Olímpio (PSL-SP) e Tasso Jereissati (PSDB-CE), caso vença a disputa interna. Também alegará que a rejeição nacional a Renan, ligado à chamada "velha política", torna maiores as chances de uma derrota do alagoano - e, por consequência, de o MDB perder a presidência do Senado.
Com isso, ela pressionará os emedebistas, defendendo que, externamente, seu nome está tão bem cotado que poderia levá-la a uma cartada: concorrer no plenário contra Renan, como candidata avulsa, mesmo que derrotada no partido.
Quatro vezes presidente do Senado, Renan vai na linha oposta. Ele defenderá que só será candidato se unir o MDB em torno de si. Seu cálculo político é que, respaldado pela sigla e tendo feito acenos recentes ao governo do presidente Jair Bolsonaro, em especial à equipe econômica, ele diminuirá resistências.
Articulador hábil, Renan tem colhido promessas veladas de apoios em todas as frentes. Do PSDB ao PT, passando por PSD e Podemos, há senadores que garantem a Renan que, no sigilo garantido pelo voto secreto, estarão com ele, o que lhe faz acreditar que terá maioria.
O Valor apurou que a cúpula do MDB prefere o nome de Simone, mas a estratégia de Renan.
As críticas do senador alagoano ao governo Michel Temer não foram esquecidas pelo núcleo mais próximo ao ex-presidente. Além de Romero Jucá (RR), que deixará de ser senador na véspera da eleição para a presidência da Casa, os ex-ministros Moreira Franco e Eliseu Padilha, seus interlocutores no Congresso, têm mais simpatia pelo nome de Simone.
Entretanto, para Jucá, que é presidente nacional do MDB, a perspectiva de o partido sair rachado no processo eleitoral, o que ocorrerá caso Tebet decida concorrer à revelia da bancada, desfavorece seus planos de manter-se no comando da legenda.
É neste ponto que a candidatura de Renan ganha força junto às esferas de poder do MDB. Ele não cogita, em nenhuma hipótese, concorrer de forma avulsa, caso não seja o preferido da bancada.
Renan tem dito aos interlocutores que Simone repete a estratégia - errada, em sua avaliação - utilizada por Luiz Henrique da Silveira (SC) na eleição do Senado de 2015.
À época, também levado por promessas de apoio do PSDB, Luiz Henrique resolveu concorrer contra Renan no plenário. O catarinense chegou a avisá-lo, em um encontro na casa de Renan na véspera do pleito, que estava seguro de ter 39 votos, faltando apenas dois para garantir maioria e derrotar o alagoano. Na hora do voto, Renan angariou 49 apoios e Luiz Henrique 31, além de uma abstenção, e foi reeleito.
A reunião do MDB também deliberará sobre o novo líder da bancada, em que há mais uma divisão Renan x Tebet. Ele apoia o senador Eduardo Braga (AM) e ela, Dário Berger (SC).
Tanto interlocutores de Simone quanto de Renan avaliam que a decisão pode ser postergada para quarta ou quinta-feira, véspera da eleição. Isso porque não está claro o real posicionamento da bancada, em especial dos novos senadores. O MDB terá 13 senadores, com a adesão de Eduardo Gomes (TO), recém-filiado.
Os cálculos de um lado e outro não batem. Tanto os pró-Renan quanto os pró-Simone asseguram que eles detêm maioria. O Valor teve acesso à lista de ambos e vários nomes dados como apoios seguros coincidem - ou seja, há senadores fazendo promessas de apoio a ambos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário