Lista de prioridades do governo Bolsonaro para os primeiros cem dias deixa a desejar, sobretudo pela ausência de temas como reforma da Previdência
Com as promessas sobre reformas reiteradas no encontro anual da elite global, em Davos, o governo Bolsonaro conseguiu manter a animação do mercado financeiro na semana passada.
Mesmo num contexto conturbado, a Bolsa de Valores acumulou alta de 11% desde o começo do ano (até sexta, 25), e as taxas de juros de longo prazo vinham caindo.
E isso a despeito da falta de detalhes no compromisso com a reforma da Previdência expressado pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) e pelo ministro Paulo Guedes. O titular da Economia só mencionou a pretensão de poupar algo entre R$ 700 bilhões e R$ 1,3 trilhão.
Trata-se de objetivo mais ambicioso que o da gestão anterior, mas, com as expectativas infladas, mostrar a viabilidade da proposta torna-se ainda mais importante.
Causa estranhamento, nesse quadro, que a lista do governo com 35 prioridades para os primeiros cem dias tenha passado ao largo de itens fundamentais, como a própria Previdência e os tão almejados avanços na área tributária.
No campo econômico como um todo, aliás, o documento deixa a desejar. Mesmo que ali estivessem arroladas apenas metas de curto prazo, a ausência de pilares do discurso de Guedes suscita desconfiança.
Pode indicar um forte dissenso na administração federal, inclusive quanto à disposição dos militares de “liderarem pelo exemplo”, como quer o ministro Guedes, ou mesmo um certo temor quanto à propensão do presidente a bancar uma proposta ampla.
Menos mau que, entre as poucas iniciativas listadas para a economia, algumas tenham notória relevância. Uma delas é o combate às fraudes do INSS, que até consta de medida provisória já editada.
Também aparece a intenção de concluir as concessões de aeroportos e terminais portuários preparadas pelo governo Temer (MDB), bem como a de avançar na preparação do leilão do excedente de cessão onerosa, de modo a viabilizar a licitação de área do pré-sal prevista para o terceiro trimestre. Só essa última medida pode render R$ 100 bilhões para a União.
A lógica dos cem dias se perde, contudo, diante de ações que dificilmente serão concluídas nesse prazo, como a abertura da economia por meio da negociação de acordos comerciais. Quanto a isso, só o sugerido barateamento da aquisição de insumos e maquinário parece viável, se houver redução unilateral de tarifas de importação.
No geral, o governo passa a impressão de que tateia para definir prioridades. Enquanto isso, aumenta as promessas —e, por consequência, a eventual frustração, sobretudo no caso da Previdência, cresce na mesma proporção. Doravante é preciso clareza e eficácia, atributos ainda por serem revelados pela nova administração.
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