- Valor Econômico
Economistas veem Selic estável agora e em alta no futuro
O dólar é uma variável crítica nesta segunda-feira. Seu patamar de negociação no pregão de hoje será um termômetro de sucesso deste início de governo, que agora tem também Legislativo e Judiciário operantes, além do Executivo. Se a posse de Jair Bolsonaro (PSL), Paulo Guedes e companhia já fez bastante preço nos juros futuros e na bolsa, com o Ibovespa renovando recordes a cada semana, o mesmo ainda não ocorreu no mercado de câmbio.
Uma ruptura consistente do suporte de R$ 3,70 para a taxa de câmbio é de grande relevância para o governo Bolsonaro. Esse movimento, que não se confirma, é um importante indicador do interesse de estrangeiros por investimentos no Brasil. Por ora, o comportamento do mercado cambial sugere que o país é uma boa aposta. Mas é mais atraente quando visto à distância. E pelo lado de fora.
Na quinta-feira, o discurso tolerante de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed), com a inflação colaborou, em muito, para que o dólar rompesse o suporte de R$ 3,70 e encerrasse a quinta-feira a R$ 3,65. Na sexta, diante das incertezas no cenário político, a moeda instalou-se em R$ 3,66. Portanto, a queda não progrediu. Ainda assim, as sessões mais positivas da semana passada alimentaram a ideia de que a taxa de câmbio possa ter deflagrado, enfim, um ciclo de baixa rumo a R$ 3,60 - cotação projetada há cinco meses por especialistas para os negócios pós-eleição, se garantida a vitória de Bolsonaro.
Se a vitória do deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) foi mais que comemorada - ele foi eleito por 334 votos, 65% dos 513 disponíveis na Câmara, ou 26 votos a mais que os 308 necessários para aprovar mudanças na Constituição, caso da reforma da Previdência -, o mesmo não ocorreu com a de Davi Alcolumbre (DEM-AP) para o comando do Senado. A brigalhada instaurada na Casa para a eleição do seu presidente surpreendeu.
Alcolumbre à frente do Senado - após apertada vitória por 42 votos, 52% dos 81 votos possíveis, fortalece, claro, o DEM, mas fortalece também a oposição que terá, em suas fileiras, um raivoso e experiente senador Renan Calheiros (MDB-AL). Ao retirar sua candidatura à presidência do Senado, no sábado, abrindo caminho para Alcolumbre, Renan já estava pintado para a guerra. E não provocará estranheza se vier a se comportar como o "mais petista" dos emedebistas.
Alcolumbre no Senado fortalece também o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, deputado federal pelo DEM-RS atualmente licenciado. Onyx foi um apoiador de primeira hora de Alcolumbre para comandar o Senado. Nesta segunda, às 15h, Onyx entregará a mensagem do presidente Jair Bolsonaro - em recuperação médica - à Câmara.
A leitura do texto, a ser feita pelo portador da mensagem que marca a abertura dos trabalhos, merece atenção e por pelo menos dois motivos: Rodrigo Maia, pela terceira vez seguida presidente da Câmara, não era o "candidato" de Onyx ao cargo; Alcolumbre não era o "candidato" preferencial da equipe econômica. Onyx e Paulo Guedes, o ministro da Economia que detém extraordinário prestígio junto ao presidente, se estranham desde os primeiros dias de "transição" do governo. Bolsonaro foi consagrado presidente na votação em 2º turno, no fim de outubro, e tomou posse em 1º de janeiro.
Na última sexta-feira, o mercado de câmbio resistiu a duas influências: a eleição na Câmara e no Senado e a decisão do ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), que negou o pedido do senador Flávio Bolsonaro para suspender as investigações sobre suposta movimentação financeira atípica apontada pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).
Nesta segunda, será tirada a Prova dos Nove. O dólar vai embicar ou não a R$ 3,60, R$ 3,50, R$ 3,30? A ver. O Ibovespa, que vai bem (obrigado!), pode furar, ainda hoje, a resistência de 100 mil pontos. O indicador está a apenas 2,2% dessa marca que poderia ter sido alcançada há alguns dias, não fosse o tombo das ações da Vale - reflexo da tragédia em Brumadinho (MG).
A inflação livrou-se da sobrecarga arrastada durante meses, imposta pela greve dos caminhoneiros. Após quase um ano abaixo do piso da meta, o IPCA saltou em função da paralisação e permaneceu seis meses acima de 4%, no cálculo em 12 meses. Em novembro, porém, a queda foi retomada. O comportamento da inflação explica a expectativa unânime de economistas de bancos e consultorias que veem a Selic inalterada em 6,50% na primeira reunião do Copom em 2019, marcada para esta semana.
Pesquisa Valor com 40 profissionais mostra também importante mudança em projeções mais longas para o juro básico. Em relação à pesquisa de dezembro, a atual revelou número maior de analistas que não esperam alta da Selic neste ano. E, entre os analistas que esperam aumento do juro, diminuiu a estimativa máxima para o fim do deste ano. Um ajuste de 1,0 ponto percentual, de 9,0% ao ano para 8,0%.
Alguns dos economistas pesquisados sobre as perspectivas para o juro no Brasil são reticentes quanto à colaboração (positiva) do câmbio para a manutenção da Selic em 6,50% a médio e longo prazo. Eles lembram que o dólar é altamente influenciável pelo câmbio internacional e pela condução das políticas partidária e externa do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sendo Trump uma caixa de surpresas.
Os economistas ouvidos pelo Valor para a pesquisa pré-Copom - publicada nesta edição no caderno de Finanças - entendem que a próxima Diretoria Colegiada do Banco Central dará continuidade ao trabalho executado sob o comando do atual presidente da instituição, Ilan Goldfajn.
A sucessão de Ilan pelo economista indicado por Paulo Guedes para a presidência, Roberto Campos Neto, depende da aprovação de seu nome pela Comissão de Assuntos Econômicos do Senado (CAE) e da chancela pelo plenário ao resultado da sabatina a que serão submetidos Campos Neto e novos indicados a compor o comando do BC. As sabatinas não estão agendadas. E esse agendamento é uma das importantes questões que o Senado de Alcolumbre tem a despachar.
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