Criticar Chico Mendes e suspeitar de bispos agita, mas não ajuda a governar
O bolsonarismo acaba de fazer algumas evoluções típicas cujo resultado prático é animar plateias e militância. Enquadra-se à perfeição neste caso a atenção, noticiada pelo jornal “O Estado de S.Paulo”, do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), do ministro Augusto Heleno, com um inofensivo Sínodo, a se realizar no Vaticano, em outubro, para bispos do continente tratarem da Amazônia e seus índios.
Adiciona-se a isso o comentário insensato, feito no programa “Roda Vida”, da TV Cultura, pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, de que Chico Mendes, segundo pessoas do agronegócio, usava os seringueiros “para se beneficiar”. Reconheceu, ao responder à pergunta, que não o conhecia. Poderia não ter respondido.
Mais uma vez, o vice-presidente Hamilton Mourão atuou no improvável papel de bombeiro sensato, com elogios ao líder seringueiro. Por sinal, Mourão e Heleno, quando generais da ativa, serviram na Amazônia, conhecem bem a região.
O bolsonarismo repete cacoetes do PT, que buscava animar a militância e obter apoio de mal-informados, acusando a “herança maldita” dos tucanos pelos problemas que eles mesmos semeavam na economia. O lulopetismo instituiu o famigerado “nós contra eles”, responsável por dividir o país. É ruim que o grupo do presidente da República — em que se incluem, é claro, os filhos —, siga manuais da esquerda, numa curva radical à direita.
Manipular o suposto risco de internacionalização da Amazônia é mais do mesmo e leva a nada. A demonização é outra tática antiga, em que já se pintou como inimigo do povo o “banqueiro” — que faz a comida desaparecer da mesa dos pobres — ou agora Chico Mendes, o explorador de seguidores. Tudo manipulações. Infelizmente, muitas vezes eficaz.
Dilma se reelegeu dessa forma, numa campanha embalada por filmetes capciosos produzidos pela criatividade do marqueteiro João Santana, bem remunerado por dinheiro sujo. E sofreu impeachment dois anos depois, devido à fraude contábil no Orçamento.
Há forças políticas, à direita e à esquerda, que usam este tipo de recurso para entreter arquibancada. Outro caso, ocorrido na Alerj, é a proposta do deputado Rodrigo Amorim (PSL) de ser feita moção de congratulações e aplausos aos policiais do Bope e do Choque, da PM, que mataram 13 jovens, com todas as características de fuzilamento.
O governo Bolsonaro pode querer usar as mesmas armas, mas o que tem de fazer é aprovar as reformas, a começar pela da Previdência. O uso intensivo de redes sociais para atingir adversários não substitui uma coordenação política eficiente, capaz de obter os 308 votos na Câmara e os 49 no Senado, exigidos para a aprovação de mudanças essenciais no sistema de seguridade.
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