- Folha de S. Paulo
Revelações sobre candidaturas de laranjas expõem a fragilidade do discurso ético do PSL
A combinação de laranja e política já foi bem mais divertida. Tem lugar de honra no anedotário o debate de Mário Covas e Paulo Maluf sobre a então pouco popular praga do amarelinho, na campanha de 1998. A partir dali, o progresso tecnológico conteve a propagação da doença nos laranjais de SP.
Não há consenso sobre que caminho levou a palavra laranja a tomar outro sentido, bem menos saudável: o de batizar a pessoa que tem seu nome utilizado para alguma fraude. Mas é inequívoco que nenhum avanço legal parece estar sendo capaz de deter a incidência desse mal.
A última manifestação apareceu na Folha nos últimos dias. As revelações expõem a fragilidade do discurso ético do PSL, o partido do presidente. É interessante notar que a reação do bolsonarismo vai sendo diferente da de Jair no episódio Wal do Açaí e da de Flávio no caso Queiroz. Parece agora faltar coragem para sustentar que laranja não é laranja.
O enredo repete capítulos de outros escândalos de tal modo que dá desânimo. Recorrer a gráficas para fazer mutreta? Tem isso. Empresas de fachada? Estão lá. Dirigentes partidários que nada sabem e nada viram? Escalados. Usar a luta pela participação feminina na política para cometer desvio? Feito, e acrescido de misoginia aberta.
Após tudo o que houve em campanhas passadas, as mudanças do marco legal continuam longe, muito longe, de terem abafado o problema. Ministério Público e Judiciário deveriam fazer desse caso um processo exemplar, indo de verdade até o fim. E a ideia de que o que acontece na lei eleitoral fica na lei eleitoral, sem criminalizar os envolvidos, precisa ser combatida como a praga que é.
O primeiro teste de estresse político do governo Bolsonaro serviu também para demonstrar o que já se suspeitava: o grupo no poder é um ninho de cobras em que ninguém confia em ninguém. Trabalho em equipe não deve ser o forte ali.
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