- Folha de S. Paulo
Debate brasileiro sobre público x privado recai sobre questões superadas
No Brasil, até o atraso se tornou atrasado. Basta ver a discussão mundial sobre público x privado. O debate brasileiro passa longe de qualquer tecnologia e recai sobre questões superadas. Evidencia que não temos muita ideia do que está em jogo.
O sigilo dos documentos federais, por exemplo. O que se queria ali era arrastar o pêndulo do público para o privado. A bola rodou de mão em mão, do vice para a Câmara para o presidente, até cair no chão. Retomou-se um debate de 17 anos atrás, que sugou a atenção para nada.
A polêmica sobre o hino vai na mão oposta. O governo se mexeu para tornar público o que é privado. Noves fora o despropósito da conversa, o ponto da privacidade remonta ao Estatuto da Criança e do Adolescente —uma lei de 1990. Seria mais moderno pedir que as cenas fossem filmadas com o celular na horizontal.
Mundo afora, o duelo público x privado ganhou sofisticação tal que faz a guerra fria parecer jogo de damas.
A ditadura chinesa vai colhendo amostras de DNA de seus cidadãos sem pedir licença nem respeitar normas científicas. Para isso, usa tecnologia dos EUA, com quem trava duelo hipócrita sobre privacidade.
Os americanos dizem que as empresas da China grampeiam pessoas. A indústria chinesa de celular, cada vez mais forte no mercado, afirma que quem revira a vida de todo mundo são os EUA.
Já o Brasil vai frouxo no controle (não consegue nem avançar para um número único de identidade) e na regulação (fez uma lei de proteção de dados tão inacabada que as empresas são orientadas a usar a norma europeia). Não é preciso nenhuma dose de má vontade para escutar o ministro da Ciência e Tecnologia e perceber que não se tem muita ideia do que fazer.
O Brasil nunca foi uma liderança tecnológica, mas antes era chamado à mesa —como na escolha do padrão da TV digital. Íamos atrasados, mas ainda aparecíamos no retrovisor do mundo.
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