Fim da linha de produção de caminhões indica ineficácia do protecionismo como política
Entre a emblemática foto do presidente Juscelino Kubitschek no banco de trás de um fusca conversível, em 1953, na inauguração da fábrica da Volkswagen em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, e o anúncio do fechamento da linha de montagem de caminhões da Ford, na mesma cidade, passaram-se 65 anos.
Tempo em que o ABC atingiu o apogeu como polo automobilístico e, da mesma forma como outras experiências idênticas no mundo, começou a deixar de receber novos investimentos no setor, também atraídos para outras regiões pela guerra fiscal entre os estados. Mas contribuíram ainda para isso o aumento de custos locais — logística, infraestrutura, salários — e também o ativismo sindical na região. Detroit, nos Estados Unidos, serve de parâmetro.
O fechamento da fábrica da Ford tem outras explicações — bem como ameaças no mesmo sentido que têm sido feitas por outra montadora americana, a General Motors.
Queira-se ou não, a competição global é um fato, e as duas montadoras têm perdido a corrida contra concorrentes asiáticos, e não só para os clássicos japoneses — Toyota e Honda. Até a indústria automobilística da China se torna cada vez mais uma forte competidora.
E é neste cenário que a indústria entra em um ciclo de profundas mudanças tecnológicas, comparáveis a uma fusão de Detroit — símbolo das montadoras, em processo de reinvenção —com o Vale do Silício, onde nasceram os gigantes tecnológicos.
A informatização dos veículos, que aponta para carros e caminhões autônomos, e a substituição dos combustíveis fósseis por eletricidade e outras fontes de energia pressionam as tradicionais montadoras para fazerem enormes investimentos em pesquisa, sem deixar de lado associações no Vale do Silício. Os novos tempos —já presentes —levam a indústria a se repensar globalmente.
É neste cenário que a Ford e as demais repensam estratégias. A montadora resolveu deixar de produzir caminhões na América do Sul, assim como tem encerrado linhas de produção de modelos na Europa.
No velho pensamento dos “desenvolvimentistas”, bastaria oferecer proteção e reserva de mercado à Ford. Mas não se trata mais disso, porque a integração industrial — assim como em toda a economia — é questão-chave. Fechara economia, ou mantê-la fechada, como no caso do Brasil, é incentivara desindustrialização. Acabou a era da “substituição de importações” por meio de políticas autárquicas.
O fechamento da fábrica da Ford deveria levar o governo Bolsonaro a acelerara aberturada economia, para integrar o país às linhas globais de produção, mais do que já está. Será suicídio fazer o contrário. Movimentos de corporações de reduzir ou retirar investimentos da Inglaterra, sob o risco do Brexit, também merecem uma reflexão de autoridades brasileiras.
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