quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Bernardo Mello Franco: Elogios a Stroessner rebaixam o Brasil

- O Globo

Exaltado por Bolsonaro, o general Stroessner chefiou uma ditadura corrupta e assassina no Paraguai. Ficou 35 anos no poder e morreu sem prestar contas à Justiça

Jair Bolsonaro passou um mês sem falar em solenidades oficiais. Era melhor que tivesse continuado em silêncio. Na posse do novo diretor de Itaipu, o presidente exaltou o ditador paraguaio Alfredo Stroessner. Chamou-o de “estadista” e “homem de visão”.

A história mostra que os predicados do general eram outros. Depois de liderar um golpe militar, ele passou 35 anos no poder. Comandou um regime corrupto e sanguinário, responsável por múltiplos crimes contra a humanidade.

De acordo com estimativas oficiais, a ditadura paraguaia torturou mais de 18 mil pessoas entre 1954 e 1989. A Comissão da Verdade e Justiça do país contabilizou 59 mortos e 336 desaparecidos.

O relatório final do órgão afirma que Stroessner montou um regime de “caráter totalitário”, voltado para o “controle total do Estado e da sociedade”. Seu governo foi implacável. “Perseguiu, eliminou, excluiu, extirpou e aniquilou todo foco, tentativa ou projeto de oposição”, registra o documento.

O general não se limitou a chefiar a repressão política. Ele permitiu e estimulou o contrabando. Fez do comércio ilegal de cigarros, bebidas e eletrônicos uma marca registrada do Paraguai.

Stroessner também usou o poder para enriquecer. O juiz Arnaldo Fleitas, que tentou extraditá-lo, estimou sua fortuna em US$ 500 milhões. Parte do dinheiro ficou escondida em contas secretas na Suíça. O general obteve asilo político no Brasil e morreu no país, sem responder por seus crimes.

Em 2016, o Departamento de Memória Histórica e Reparação revelou outra face obscura do ditador. Ele foi acusado de patrocinar um esquema de exploração sexual de crianças. Segundo as investigações, o regime mantinha uma espécie de harém com meninas de 10 a 15 anos, que eram raptadas no interior para servi-lo.

A simpatia por ditadores não é uma novidade na carreira de Bolsonaro. A diferença é que ele deixou de ser apenas um deputado de posições radicais. Ao assumir a Presidência, passou a representar o país. Seus elogios a Stroessner rebaixam o Brasil e o cargo que ocupa.

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