Por Thais Carrança e Bruno Villas Bôas | Valor Econômico
SÃO PAULO E RIO - A taxa de desemprego no trimestre encerrado em janeiro ficou em 12%, o equivalente a 12,7 milhões de desempregados. O percentual ficou pouco abaixo dos 12,2% registrados um ano antes, mas acima do trimestre terminado em outubro, de 11,7%, e da expectativa dos economistas, de 11,9%. Apesar de um aumento da desocupação ser esperado em janeiro, devido à demissão de temporários contratados no fim de ano, o número veio pior do que a sazonalidade típica do período, o que foi visto como um sinal de alerta.
O cálculo da taxa dessazonalizada varia de acordo com cada consultoria ou instituição financeira. Mas todas as casas ouvidas pelo Valor apontam para piora da taxa em janeiro em relação a dezembro, ou para estabilidade em um nível elevado, acima de 12%, um mau sinal num momento em que o mercado de trabalho deveria estar em recuperação.
Na série com ajuste sazonal do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), a taxa subiu pelo segundo mês seguido, de 12,1% em novembro, para 12,2% em dezembro e 12,3% em janeiro, interrompendo a tendência de queda registrada desde março de 2017.
"Dois meses consecutivos de alta na série dessazonalizada já é para ligar o sinal amarelo", diz Daniel Duque, do Ibre-FGV. Segundo ele, essa piora na ponta pode estar acontecendo porque a taxa de desemprego caiu com base em fatores como o aumento do desalento e da subocupação, respectivamente, pessoas que desistiram de procurar emprego -e por isso deixam de entrar na estatística - e aquelas que trabalham menos do que gostariam.
No trimestre até janeiro, a população subutilizada (soma de desempregados, subocupados e pessoas que estão fora da força de trabalho, mas poderiam trabalhar) somava 27,5 milhões, 671 mil a mais do que um ano antes. As pessoas desalentadas eram 4,7 milhões, alta de 6,7% na base anual, e as subocupadas por insuficiência de horas eram 6,8 milhões, aumento de 7,3%.
"Isso ajudou a taxa de desemprego por um tempo, mas agora estamos vendo uma estabilização nesta situação, então cada vez mais a queda da taxa depende de uma melhora da população ocupada, que está em nível muito baixo", destaca Duque.
A população ocupada somou 92,5 milhões em janeiro, aumento de 0,9% na comparação anual. Já os desempregados somavam 12,7 milhões, praticamente estáveis em relação a um ano antes.
Desde outubro de 2018, o crescimento da ocupação na comparação com o mesmo período do ano anterior perdeu ritmo, o que também é considerado um sinal de atenção pela 4E Consultoria. No trimestre encerrado em outubro, o número de ocupados cresceu 1,5% na comparação anual, percentual que caiu a 1,3% em novembro, 1% em dezembro e agora a 0,9% em janeiro.
A lentidão na criação de vagas, acompanhada da volta esperada das pessoas ao mercado de trabalho, deve manter o desemprego elevado no curto prazo, acredita o Haitong. "A economia não está com vigor suficiente para começar a demandar maior número de postos de trabalho", observa Flavio Serrano, economista sênior do banco chinês.
Com a fraca geração de vagas, o desemprego não cede e o consumo não deslancha, reduzindo a transferência de renda entre setores da economia. Assim, a lentidão do mercado de trabalho limita a recuperação da atividade, num ciclo que se retroalimenta. Serrano espera que esse quadro possa começar a mudar com a melhora da atividade econômica a partir do segundo trimestre.
Nem mesmo a melhora da renda foi vista como um sinal positivo da economia no trimestre encerrado em janeiro. No período, o rendimento médio real habitual chegou a R$ 2.270, aumento de 1,4% em relação ao trimestre encerrado em outubro e de 0,8% na comparação anual. Trata-se também do maior nível da série histórica, iniciada em 2012.
Segundo Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, o movimento é explicado pela aumento do salário mínimo, fixado em R$ 998 por decreto assinado por Jair Bolsonaro (PSL) e a dispensa de trabalhadores mal remunerados.
"Houve dispensa de 354 mil trabalhadores nessa entrada do ano, especialmente de pessoal sem carteira de trabalho assinada, com salários menores. Isso também pode explicar por que razão, na média, a renda cresceu no início do ano", disse Azeredo.
Outro recorde no trimestre encerrado em janeiro foi o de trabalhadores por conta própria, que chegaram a 23,9 milhões, alta de 3,1% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior e de 1,2% comparado a outubro. "As pessoas foram vender comida na rua e dirigir carros em serviços de aplicativos para sobreviver", disse Azeredo. Esse movimento evitou que o desemprego piorasse ainda mais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário