Alojamento que pegou fogo no CT, matando dez adolescentes, não tinha certificado dos Bombeiros
A cidade não se refizera do choque com o temporal da noite de quarta-feira e madrugada de quinta, que deixou seis mortos, e já acordou ontem abalada por nova tragédia. Um incêndio num alojamento do Centro de Treinamento Presidente George Helal, conhecido como Ninho do Urubu, em Vargem Grande, provocou a morte de dez adolescentes e queimaduras em outros três da divisão de base do Flamengo — um dos feridos estava ontem em estado grave. A polícia investiga o que pode ter originado o fogo que destruiu as instalações, formadas por contêineres. Parentes dos meninos que escaparam disseram que as chamas teriam começado no ar-condicionado. Independentemente das causas, é evidente que o clube falhou na proteção aos atletas que estavam sob sua responsabilidade, meninos que sonhavam seguir os passos de astros como Vinicius Junior e Paquetá.
À medida que avançam as investigações, o incêndio no CT do Flamengo vai se assemelhando a outras tragédias recentes, como a de Brumadinho, no que diz respeito a falhas, omissões e negligências que contribuem para um desfecho perverso. Algumas já estão vindo à tona. A prefeitura informou ontem que, na licença aprovada, o local que pegou fogo consta como estacionamento, e não como alojamento. Ou seja, não havia autorização para os caixotes-dormitórios. Obviamente, cabem algumas perguntas. A prefeitura, que agora constata o problema, não o fiscalizara antes? Se fiscalizara, por que não o interditou? E, se interditou, por que continuou funcionando? É fato também a ser investigado.
Outro ponto que merece reflexão: as instalações de um dos clubes mais ricos do país não tinham sistema antifogo, como sprinklers (chuveirinhos) ou brigadas de incêndio. Aliás, não contavam sequer com o certificado do Corpo de Bombeiros.
Consta que os contêineres que pegaram fogo seriam desativados em poucos dias, e os adolescentes, transferidos para os antigos dormitórios dos profissionais, que ficaram vagos após a inauguração das novas e sofisticadas instalações do CT, no fim do ano passado. Só que o incêndio aconteceu antes.
Infelizmente, trata-se de mais uma demonstração do pouco caso dado aos sistemas de prevenção no país. Acredita-se que as tragédias respeitam o ritmo da burocracia. Erro fatal. Lembre-se que o Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, estava para implantar um sistema anti-incêndio quando foi devastado pelo fogo. É preciso mudar urgentemente esse comportamento. Há que se antecipar às catástrofes, com uma pergunta simples: e se acontecer? Caso contrário, continuaremos nessa sequência nefasta de tragédias, em que só há lugar para dor e lamentações.
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