A economia brasileira tenta agora, devagar, a recuperação da recuperação - os indicadores da indústria e do varejo de janeiro tentam voltar ao nível alcançado em abril de 2018, mês anterior ao esmorecimento das atividades, o da greve dos caminhoneiros. Falta ímpeto para a retomada, o que aparece nas revisões generalizadas do crescimento para o ano, em direção aos 2%, com viés de baixa. Há algum dinamismo na ponta (comparação de janeiro com dezembro), mas o resultado no acumulado em doze meses mostra recuo em vários setores do comércio e, especialmente, na indústria.
Emprego, crédito, dívidas e confiança devem dar pequena contribuição para o crescimento que, se tudo der certo, adquirirá mais dinamismo ao longo do ano. A perspectiva menos favorável é a do emprego, que não deve evoluir de forma significativa. Os números da massa salarial e da evolução dos salários deixaram de ser animadores, como foram quando a inflação desabou a partir de setembro de 2017. Os ganhos reais são mirrados e as contratações, idem.
O grau de endividamento é agora menor do que no início da recessão, a oferta de crédito voltou a crescer para as pessoas físicas, mas os juros ainda estão altos, o que reforça a cautela no consumo, ao lado da insegurança no emprego. Há grande expectativa com o choque de confiança que poderá vir da aprovação de uma boa reforma da previdência. Ainda que isso ocorra, ele só será sentido no segundo semestre, quando o Congresso terá colocado ponto final no assunto.
Há chance de algum avanço nos investimentos, o que até agora não apareceu. A indústria de bens de capital teve nova queda em janeiro, de 3% ante dezembro e o ritmo de evolução da produção em 12 meses caiu para 5,5%. A confecção de máquinas para bens industriais caiu 9,5% e de itens para construção, 3,9%. Foi o terceiro revés mensal consecutivo, com encolhimento de 10,2%. Não se trata de exceção: metade (13) dos ramos industriais (26) teve contração. O indicador da indústria geral recuou 0,8% no primeiro mês do ano e no acumulado em 12 meses está agora apenas 0,5% positivo. Sintoma do baixo nível geral da atividade industrial é a pasmaceira do desempenho dos bens intermediários - quarto mês consecutivo negativo e nenhuma expansão na soma de 12 meses.
O nível de vendas do varejo, por seu lado, era em janeiro 6,6% inferior ao recorde de outubro de 2014, mesmo percentual que já mantinha em abril do ano passado. O comércio ampliado, que inclui vendas de veículos e material para construção, estava mais atrasado, 11,4% abaixo do pico atingido em agosto de 2012.
As estatísticas de janeiro mostram perda de ritmo da recuperação em 12 meses, mas há também a promessa de dias melhores, pelo menos no comércio. Na comparação com o mesmo mês de 2018, cresceu 1,9%, na sexta taxa positiva consecutiva, e o comércio ampliado, 3,5% (21ª taxa positiva em sequência). A indústria automotiva puxou o crescimento do varejo ampliado, enquanto a venda de material de construção, um dos termômetros do setor imobiliário, teve avanço de 2,2% em relação a janeiro de 2018, ainda que em doze meses tenha perdido ritmo - de 3,5% para 3,1%. A indústria de insumos para o setor ainda teve queda de 0,3%, mas a menor em três meses.
O aumento da oferta de crédito é seletivo e seu resultado é desigual no comportamento do varejo. Teve efeito positivo claro nas vendas de carros, mas bem menos intenso nas de móveis e eletrodomésticos, dele dependentes. Esse segmento mostra recuo maior no índice acumulado em doze meses entre dezembro e janeiro.
Há também descompasso no desempenho dos bens de salário. Quando se trata de comida, responsável pela maior parte do faturamento de supermercados e hipermercados, as vendas voltaram a crescer em volume, não importa o período de comparação. Já o mesmo não ocorre com a comercialização de tecidos, vestuário e calçados, que mostrou estabilidade em janeiro (0,1%) ante dezembro e duas quedas consecutivas quando a comparação é feita com iguais meses do ano anterior.
Consumo contido é poderoso freio à inflação. A comparação entre o volume de vendas do comércio varejista e as receitas de vendas mostra variação média nominal de preços de 2,7%, Mesmo onde a demanda é maior, caso de artigos de uso pessoal e doméstico (mais 7,4% em volume), o aumento médio dos preços foi de pouco mais de 1%.
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