Massacre na Nova Zelândia serve de marca do avanço no mundo do racismo e do sectarismo em geral
O fato de chacinas como as ocorridas no Oriente Médio por sectários, e na Europa, por braços desses grupos radicais, chegarem à Nova Zelândia é por si só um choque. País com baixa taxa de homicídios, os 50 assassinatos cometidos pelo australiano Brenton Tarrant, num ataque contra mesquitas na sexta-feira da semana passada, provocaram, nos 36 minutos em que ele apertou sucessivamente o gatilho, mais mortes do que a violência em um ano inteiro no país.
Outra causa de perplexidades e horror é que o assassino transmitiu ao vivo o morticínio pelo Facebook, por meio de uma câmera que levava no capacete. Mais uma vez, redes sociais ganham algum destaque em atos de desvario como este. Pouco antes, dois desses assassinos, na cidade paulista de Suzano, invadiram a Escola Raul Brasil, como fez Tarrant nas mesquitas neo-zelandesas, e tiraram a vida de cinco alunos e duas funcionárias, se matando em seguida. Há investigações sobre contatos que mantinham pela internet.
A tragédia provocada pelo australiano tem ainda outro aspecto preocupante, o de ele ser um militante supremacista branco. Sintomático que no manifesto que distribuiu tenha elogiado o presidente Donald Trump, acusado de racista por grupos de oposição. O presidente rebateu a menção que Brenton Tarrant fez a ele e se solidarizou com as vítimas, migrantes da Ásia e Oriente Médio.
É conhecida, porém, a simpatia de Trump por supremacistas americanos. Não foi feliz, por exemplo, quando, ao falar sobre o choque entre um grupo de supremacistas, neonazistas e da Ku Klux Klan e manifestantes antirracistas, em Charlottesville, na Virgínia, em 2017, culpou os dois lados. Nos quais “há pessoas boas”. Um carro foi jogado sobre manifestantes antirracismo causando pelo menos uma morte.
O que também assusta na motivação dos assassinatos na Nova Zelândia é que o supremacismo branco não é fenômeno apenas americano, e tem longa história. O racismo, a xenofobia, a resistência ao estrangeiro estão entranhados na ideologia nacional-populista que avança na Europa, tem uma de suas sedes em Moscou e aparece no autoritarismo chinês na repressão a etnias minoritárias.
Neste sentido, o comentário negativo do assassino australiano à miscigenação brasileira — sinal de que frequenta mesmo redes de radicais — deve ser recebido como elogio.
A mistura de etnias é um patrimônio da nação, e não se pode abrir mão dela em qualquer hipótese. Em defesa de negros, de brancos ou o do que seja. Mais ainda sabendo-se das raízes autoritárias desses movimentos criminosos.
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