- O Globo
Uma das origens da crise que fulminou o segundo governo da ex-presidente Dilma Rousseff estava na incompreensão da petista em relação ao resultado de sua reeleição. Após derrotar o tucano Aécio Neves pela menor margem vista em nossa história republicana, Dilma entendeu que a população lhe dera um salvo conduto para dobrar a aposta em seu estilo. Tratava-se do oposto. Em vez de processar o mea-culpa pelos muitos erros cometidos até então, Dilma fechou-se ainda mais em torno de seus seguidores incondicionais. Deu no que deu.
Desde que foi eleito, o presidente Jair Bolsonaro adotou postura semelhante. Em nenhum momento fez acenos aos derrotados e seguiu com ataques a inimigos reais e imaginários — em suma, todos que não partilham integralmente de sua visão de mundo. De fato foi o discurso radical que o tirou do baixo clero do Congresso e o levou ao papel de principal representante da direita brasileira. Mas sua chegada ao Planalto não foi consequência de um alinhamento da sociedade com o discurso extremista. Pelo contrário.
A principal razão para sua eleição foi a rejeição da maioria da sociedade a dar mais um mandato presidencial ao PT. Durante a campanha, as pesquisas mostravam que qualquer adversário, que não Fernando Haddad, bateria o então candidato do PSL no segundo turno.
Em vez de olhar para o resultado com humildade e buscar um caminho que unisse o país após quatro longos anos de crise política, o presidente optou pelo oposto. Desde outubro, suas manifestações são direcionadas essencialmente para o núcleo que o tirou do ostracismo, os militantes mais aguerridos da direita brasileira. Nessa trilha, Bolsonaro abriu mão inclusive de organizar uma base parlamentar que dê sustentação efetiva às reformas imprescindíveis para a retomada econômica.
A pesquisa Ibope divulgada ontem mostra que a estratégia está dando errado. A queda de 15 pontos percentuais na avaliação positiva do governo em dois meses é de impressionar. Para efeito de comparação, quando a crise de popularidade de Dilma começou, pouco depois da reeleição, sua avaliação despencou19 pontos no Datafolha igualmente num período de dois meses, entre dezembro de 2014 e fevereiro de 2015.
O patamar atual de Bolsonaro ainda é significativamente melhor que aquele do início do segundo governo da petista, mas há um ditado que deve servir de alerta: em pesquisa, o que vale é o “filme”, não a “foto”.
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