Por Carla Araújo e Fabio Murakawa | Valor Econômico
BRASÍLIA - "Desnecessário" e de "baixo nível" foram algumas das classificações feitas pela ala militar que compõe o governo sobre o fato de o presidente Jair Bolsonaro ter compartilhado na terça-feira um vídeo em que um homem urina sobre o outro aparentemente no Carnaval para criticar o que, segundo ele, "tem virado muitos blocos de rua no Carnaval brasileiro".
A polêmica postagem ocorre após o presidente ser alvo de protestos, xingamentos e ironias em diversos blocos carnavalescos. Isso levou veículos no Brasil e no exterior, como o "Guardian" e o "New York Times" a questionar se Bolsonaro estava retaliando.
"Ele sabe que não deveria ter feito e reconheceu que fez por impulso", afirmou um militar de alta patente que despacha no Palácio do Planalto, ponderando que a "cena horrorosa" do vídeo deixou o presidente muito indignado. A caserna, assim como fez no episódio que culminou com a demissão do ex-ministro Gustavo Bebianno, preferiu evitar declarações públicas sobre o ocorrido na tentativa de não alimentar a polêmica.
No início da noite, em nota oficial, a Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República tentou esclarecer a publicação. "No vídeo, postado pelo sr. Presidente da República em sua conta pessoal de uma rede social, há cenas que escandalizaram, não só o próprio Presidente, bem como grande parte da sociedade. É um crime, tipificado na legislação brasileira, que violenta os valores familiares e as tradições culturais do carnaval", diz o texto.
"Não houve intenção de criticar o Carnaval de forma genérica, mas sim caracterizar uma distorção clara do espírito momesco, que simboliza a descontração, a ironia, a crítica saudável e a criatividade da nossa maior e mais democrática festa popular", completa a nota do Planalto.
Alguns auxiliares do presidente disseram que caberá novamente ao grupo militar atuar como poder "moderador" para apagar o incêndio e também para traçar uma estratégia melhor de comunicação para "enquadrar o presidente".
Segundo um militar de alta patente, a grande dificuldade é que ainda falta expertise para as novas mídias e Bolsonaro - apoiado por seus filhos - "chegou aonde chegou graças às redes sociais". "É preciso entrar nesse jogo, nós entendemos de guerra e ainda precisamos investir em comunicação", disse um interlocutor do presidente.
Monitoramento feito ontem pelo Planalto sobre o tema mostrava, no entanto, que as reações positivas e de apoio ao presidente no episódio chegavam em maior número do que as negativas. Segundo um auxiliar, porém, se o tema não conseguir sair da pauta é possível que haja uma inversão.
Apesar da ala militar criticar o exagero da mensagem do presidente, houve também uma parte que defendeu a publicação dizendo que estão "atacando o mensageiro e não a mensagem".
O vice-presidente Hamilton Mourão, que costuma atender a imprensa e comentar sobre diversos assuntos, afirmou ontem que a tendência era de a polêmica passar. Perguntado se o episódio não atrapalha a tramitação de propostas no Congresso, Mourão respondeu: "Acho que não, porque é aquela história: morre amanhã".
Apesar disso, no Planalto, auxiliares do presidente minimizaram as reclamações de membros da oposição e disseram que "estão fazendo o papel deles", mas não acreditam em consequências mais graves para o presidente.
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