Frustrações e popularidade abalada deveriam estimular Bolsonaro a corrigir rumos
Completados os primeiros cem dias de sua administração, Jair Bolsonaro (PSL) tem pouco a mostrar para satisfazer as aspirações dos que o elegeram em outubro.
Seria irrealista imaginar que o presidente pudesse apresentar resultados muito significativos em tão pouco tempo, ainda mais quando se considera a inexperiência da maioria de seus auxiliares.
Mas a frustração parece a conclusão inevitável de qualquer tentativa de analisar as realizações de Bolsonaro —e compará-las com as expectativas que ele mesmo alimentou desde sua ascensão ao poder.
Boa parte das metas estabelecidas por sua equipe para os primeiros cem dias foi atingida, mas em geral foram medidas típicas de varejo, de impacto reduzido. Várias ainda precisam receber o aval do Legislativo para entrar em vigor.
Promessas feitas durante a campanha eleitoral, como o decreto que facilitou o acesso a armas de fogo e o pacote de endurecimento da legislação penal apresentado ao Congresso, foram cumpridas.
Leilões para realização de investimentos em infraestrutura alcançaram resultados animadores, mas o êxito deveria ser creditado ao governo Michel Temer (MDB), que deixou os certames organizados. Coube a Bolsonaro bater o martelo.
Outras iniciativas, como o projeto que dá autonomia formal ao Banco Central e a criação do 13º do Bolsa Família, só saíram do papel nesta quinta (11), em evento coreografado para desfazer a imagem de que o governo está paralisado.
Nada parece suficiente para apagar a constatação de que Bolsonaro desperdiçou tempo e o capital político acumulado com sua vitória nas urnas há menos de seis meses.
Eleito com 55% dos votos, ele tem hoje a aprovação de somente 32% da população, segundo o Datafolha. Desde a redemocratização, é a pior marca atingida por um presidente a essa altura do mandato.
As pesquisas do instituto também mostraram que a agenda bolsonarista encontra resistência na sociedade —a maioria se opõe às facilidades no acesso a armas e à leniência com abusos da força policial, conforme noticiou este jornal.
Disputas ideológicas estéreis que contaram com o estímulo do próprio mandatário só contribuíram para acirrar tensões e travaram áreas essenciais como a educação.
Mais preocupante, ganharam corpo dúvidas sobre a capacidade do presidente de promover uma reforma da Previdência que ajude a restaurar a saúde financeira do país e tirar a economia da estagnação.
Bolsonaro apresentou um projeto ambicioso para lidar com o problema, mas claudicou até aqui na tarefa de estabelecer canais de diálogo com o Congresso.
Caberá ao presidente extrair dos primeiros cem dias de seu governo as lições necessárias para encontrar um caminho mais produtivo.
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